quinta-feira, 26 de março de 2009

Negros Evoluídos? (Parte 1)

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(Capa de uma edição do livro de Frederick Douglass (1818-1895), Narrative of the Life of an American Slave (1845), outro clássico do pensamento social negro nos EUA).

Semana punk! Trampos, trampos e mais trampos. Para relaxar, nada como escrever um pouquinho de besteira para o NewYorkibe. A propósito, o NewYorkibe era pra se chamar New York Shit, uma canção do rapper Bustha Rhymes, mas acabou não dando certo e nem lembro mais o porquê. By the way, agradeço a todo(a)s que tem lido, mandado comentários e elogios ao blog! Como afirma aquela velha frase impressa em sacolas de supermercado no Brasil: "Servimos bem para servir sempre!" *rs*

Hoje fiz a apresentação de um texto chatíssimo de social netwwork theory - um bagulho super complicado que não vale a pena explicar aqui - para minha aula de Foundations of Sociology II e estou só o pau da rabiola depois de ter dormido em média três a quatro horas nas últimas três noites. Ao menos o pessoal gostou! Foi uma típica aula Uninove, ou seja, muita lousa e muitos exemplos concretos (o único problema é falar todas as merdas que falo em inglês! ...hahahaha... Não quero nem imaginar o que saiu!). Hora de relaxar... Nada melhor que escrever umas besterinhas aqui no blog nosso de cada dia.

Esses dias, passeando por uma dessas redes de contatos pessoais, achei uma frase interessante de uma senhorita para um rapaz, ambos negros. Belfundia dizia assim para Sincrundio: "...Nos [sic] EUA é um paraíso cheio de negros lindos e ricos, desfilando em carrões, diferente daqui [Brasil]. Tudo foi muito bom..." Isso foi uma paulada na minha cabeça, já que pelo final da frase parecia que a garota não tinha só uma vaga impressão dos patrícios gringos via TV ou filmes, mas devia ter vindo para cá. Logo pensei: "Porra, tenho que escrever algo sobre isso". Vamos lá...

É um assunto já batido, mas que com a eleição de Obama tomou um novo fôlego. Resumidamente, poderíamos colocar o assunto da seguinte forma: a experiência de luta, organização e resolução (ou não) dos conflitos sociais/raciais da população negra nos Estados Unidos deve ser utilizada como parâmetro e exemplo para outras populações negras ao redor do mundo? Bem, há teóricos que descartam essa estratégia logo de cara. Cito apenas um: Paul Gilroy. O sociólogo é tremendo crítico do que ela chama de americanocentrismo e de como o padrão de relações racias yankee tem sido exportado para o resto do mundo como sendo a versão mais "evoluída" junto a uma série de produtos que mercatilizam a negritude americana. Dos filmes de Spike Lee ao hip-hop, nada passa incólume aos olhos do sociólogo britânico.

A crítica de Gilroy é algo que deve ser colocado num contexto mais amplo de crítica a hegemonia norte-americana no mundo pós-guerra. A idéia é que até antes dos anos sessenta e o bicho pegando por aqui com a segregação rolando solta, havia uma espécie de valorização de vínculos e ideais políticos que ligavam os afro-americanos ao resto da diáspora negra e ao continente africano. A perspectiva pan-africanista da liderança de Malcolm X, o movimento pelos direitos civis, o Black Power são claros exemplos disso uma vez que sempre apresentavam os problemas dos negros americanos numa dimensão globalizada. Mas isso praticamente acabou ou diminui de forma drástica nos últimos anos. Ouve um esvaziamente de uma perspectiva crítica/política dos negros americanos (o último exemplo talvez tenha sido a luta contra o apartheid na África do Sul que engajou muita gente por aqui) e o resto do mundo hoje só é visto apenas como consumidor dos produtos americanos fabricados por empresas cujos alguns proprietários são negros. Veja o que Gilroy diz na introdução da edição brasileira do seu livro Atlântico Negro em 2001:

http://becomingdutch.vanabbe.nl/blog/wp-content/uploads/2007/12/img_3189.jpg
(Paul Gilroy, numa lecture em 2007)

"Na medida em que as lutas anticoloniais na África pararam de repesentar o papel central que tinham durante a Guerra Fria, os negros de todos os lugares são instados cada vez mais aceitar e internalizar versões de negritude de origem norte-americanas e que circulam através de seus agentes corporativos, chamados a desenvolver remotos mercados para os 'softwares' africano-americanos. [ ] A maior parte do tempo estas perspectivas americanocêntricas são insensíveis às variações linguísticas e as outras diferenças regionais. Seu essencialismo é a opção mais barata aberta aos intermediários corporativos da comunidade negra, tornando tais fatores irrelevantes. Se esta perspectiva de mercado ainda guarda qualquer versão de consciência pan-africana, é aquela que define o progresso pela extensão infinita e insustentável de hábitos de consumo - e de suas distintas visões sobre a hierarquia racial - norte-americanos para todo o planeta. Isto pode ter sido uma fantasia desculpável durante o período do Black Power, do funk e do soul, mas é uma opção profundamente repulsiva na era da globalização do hip-hop e da multi-cultura corporativa. Note-se que a África contemporânea e sem dúvida todo o mundo em desenvolvimento ficam de fora deste quadro" (Gilroy, 2001: 23-24).

Não sei, são muitas coisas ao mesmo tempo. Vamos por partes, já diria Jack, "O Estripador". Acho que primeiro vale a pena falar da real situação da população afro-americana para vermos que há gente negra rica por aqui sim, mas que muitos patrícios não só não andam de carrão como não estão nadando no dinheiro, muito pelo contrário. Por fim, vou tentar mostrar como vem se dando a influência dos negros americanos entre a população negra no Brasil. Mas isso vem nos próximos tópicos.

Paz!

http://www.harlem.org/images/mainimage.jpg
(Reunião de músicos de jazz no Harlem em 1958)

3 comentários:

Verare disse...

Oi Kibe,

Tenho acompanhado teu blog tanto para relaxar quanto para pensar uma série de coisas. Valeu!
Abração,
Vera

celregis disse...

oi, Kibe,
Se é pra relaxar, imagimo então, quando for " a vera".
Leio sempre... e começo a entender suas provocações textuais. Legal!!

Márcio Macedo disse...

Mas é para relaxar mesmo queridas, a cada semana que passa aqui o semestre fica mais apertado de coisas pra fazer. Mas como dizem em SP, "tamo nas pista"...
Beijos,
Kibe.