segunda-feira, 30 de março de 2009

Pegando um táxi com Mister Cleaver em SP

O Brasil dos anos 1960 era tão inverossímel em algumas coisas que hoje, olhando de forma retrospectiva, soa super engraçado. O maior temor do poder estabelecido era que algo do tipo dos Panteras Negras surgisse aí pelas terras tupiniquins, lugar supostamente privilegiado pela existência de uma democracia racial, ou seja, a ausência de problemas de origem étnica/racial. Leia a reportagem abaixo:

“FBI procura líder negro que estaria em São Paulo. O líder do poder negro americano Eldridge Cleaver está sendo procurado pelo FBI e Interpol e estaria no Brasil. A Secretaria de Segurança da Guanabara acha que ele pode estar em São Paulo trabalhando como motorista de táxi. No sindicato dos motoristas de táxi não há nenhum associado com o nome de Eldridge Cleaver. Os parentes do líder negro garantiram à policia americana, há um mês, que ele tinha vindo para o Brasil”
- "FBI procura líder negro em SP", jornal Última Hora, 31 de Maio de 1969.
Press Release from Eldridge Cleaver
Esse foi um dos achados de Noel Carvalho na pesquisa para elaboração de sua tese de doutorado sobre a qual já falei no post anterior. Aposto que Carvalho deu, assim como eu dei, várias risadas quando leu essa parada. Contudo, isso é sintomático da neurose que existia no Brasil da ditadura militar em relação aos movimentos revolucionários negros nos Estados Unidos dos anos 1960. Negrão que curtia soul, usava black (afro) e andava gingando com calça boca de sino e sapato plataforma, era caso de "segurança nacional".

A vida de Cleaver (1935-1998) é bem interessante. Ele foi preso em 1966 por roubos e posse de drogas. Durante o período na prisão escreveu uma série de ensaios que em 1968 seriam reunidos sobre a forma de livro intitulado Soul on Ice (no Brasil o livro saiu em 1971 com o título de Alma no Exílio) e que serviria, junto com o livro de Stokely Carmichael - Black Power: the politics of liberation, 1967 -, como uma espécie de fundamentação filosófica e teórica do movimento Black Power. Em um dos ensaios - extremamente polêmico - o ativista negro defende o estupro de mulheres brancas como uma forma de insurreição à dominação de brancos sobre negros. Em 1966, Cleaver ajudou a fundar o Black Panther Party e em 1968 se lançou a candidato a presidência dos Estados Unidos concorrendo pela coalização Freedom and Peace Party, mas deixou a disputa depois de se envolver num tiroteio com a polícia de Oakland, motivo pelo qual era procurado do FBI e da Interpol em 1969. Daí ele veio para São Paulo e se disfarçou de motorista de táxi, não?!...



















Bem, a história é um pouco diferente. O patrício Cleaver foi mandado pelo Black Panther Party para um exílio na Argélia, posteriormente para França e Cuba, voltando para os EUA somente no final dos anos 1970. Entretanto, muita gente jura ter feito uma corrida de táxi com ele em SP ou visto o negrão curtindo em algum baile da Chic Show...



Muita Paz!

sexta-feira, 27 de março de 2009

Zózimo Bulbul: o cara!

Ele nasceu Jorge da Silva em 1937, mas adotou o nome Zózimo Bulbul e se popularizou com um dos grandes nomes da produção cinematográfica - negra, preta, afro-brasileira ou afrodescendente, seja lá como for que a chamem, - no Brasil. Também foi um dos primeiros modelos negros brasileiros nos anos 1960, Bulbul é um ativista que leva a questão racial muito a sério.


(Zózimo filmando Abolição em 1988)

Chacrinha gostava de zoâ-lo o elegendo o negro mais bonito do Brasil, fato que o ator/modelo costumava não levar muito a sério. "Olha o Sidney Poitier brasileiro!", gritava uma fã ao ver Bulbul saindo de um carro e entrando no famoso restaurante Gigeto nos 1960, ponto de encontro de celebridades do mundo artístico e intelectual em São Paulo. O apelido vinha por conta da fama do patrício gringo devido ao filme To Sir With Love (Ao Mestre com Carinho), 1967. Naquele momento, Poitier era considerado o mais bem pago ator afro-americano e a atuação bem sucedida de Zózimo na novela Vidas em Conflito, da TV Excelsior em 1969, o equiparava para a comparação realizada pelas fãs.

Conheci o Poitier brazuca - pessoalmente, diga-se de passagem - e seus filmes acompanhando a pesquisa de doutoramento em sociologia de meu amigo Noel Carvalho. Um dos filmes mais legais que assisti sobre a questão racial produzido no Brasil é Em Compasso de Espera (1969), escrito e dirigido por Antunes Filho, e onde o personagem principal, Jorge, é interpretado por Bulbul. A história é instingante: um intelectual negro e ativista, morando em São Paulo nos anos 1960, em processo de ascensão social e renegando a família pobre vive dividido entre o amor de duas mulheres brancas - uma, mais nova, pela qual está apaixonado e outra, mais velha, que lhe dá estabilidade econômica e psicológica.

Nos anos 1970, quando o bicho pegou legal no Brasil com os milicos no poder, Zózimo se mandou pra cá, NYC, e ficou um tempo pela Big Apple tirando uma onda e se articulando com a galera do movimentos raciais e artísticos. Depois ainda circulou por Paris e Lisboa. Momentos antes ele tinha começado sua experiência cinematográfica no Brasil. Seu filme mais conhecido é um documentário bastante longo produzido e dirigido por ele em 1988 intitulado Abolição. Nele Zózimo entrevista diversas personalidades (como Gilberto Freyre e Abdias do Nascimento) sobre o Centenário da Abolição da Escravatura comemorado no Brasil em 1988. Em 2004, ele atuou no primeiro longa de Joel Zito Araújo, Filhas do Vento.


(Cartaz de divulgação de Abolição, 1988)

Contudo, o filme que mais gosto de Bulbul é o primeiro que ele escreveu, produziu e dirigiu: Alma no Olho (1974). O título vem da influência do livro do Pantera Negra Eldridge Cleaver Soul on Ice (1968). No Brasil o livro saiu em 1971 com o título de Alma no Exílio e, como já disse no meu post sobre livros e Malcolm X, era leitura obrigatório entre os jovens envolvidos com o movimento negro. O diretor conseguiu fazer o filme com restos de material utilizados na filmagem de Em Compasso de Espera e, como era de se esperar devido a mensagem do filme, o diretor foi chamado a prestar contas aos milicos. Ficou dois dias detido explicando o motivo de ter feito o filme que você pode assistir abaixo. Destaque para a trilha sonora de John Coltrane, Kulu Se Mama (1965). Todas as informações contidas nesse post foram retiradas da tese Cinema e Representação Racial: o cinema negro de Zózimo Bulbul defendida no departamento de sociologia da USP em 2006. Informações entre em contato com Noel Carvalho: noelsantoscarvalho@yahoo.com.br

Enjoy o filme...

Paz!

quinta-feira, 26 de março de 2009

Negros Evoluídos? (Parte 1)

http://www.pavtube.com/images/ipod/audiobook3.jpg
(Capa de uma edição do livro de Frederick Douglass (1818-1895), Narrative of the Life of an American Slave (1845), outro clássico do pensamento social negro nos EUA).

Semana punk! Trampos, trampos e mais trampos. Para relaxar, nada como escrever um pouquinho de besteira para o NewYorkibe. A propósito, o NewYorkibe era pra se chamar New York Shit, uma canção do rapper Bustha Rhymes, mas acabou não dando certo e nem lembro mais o porquê. By the way, agradeço a todo(a)s que tem lido, mandado comentários e elogios ao blog! Como afirma aquela velha frase impressa em sacolas de supermercado no Brasil: "Servimos bem para servir sempre!" *rs*

Hoje fiz a apresentação de um texto chatíssimo de social netwwork theory - um bagulho super complicado que não vale a pena explicar aqui - para minha aula de Foundations of Sociology II e estou só o pau da rabiola depois de ter dormido em média três a quatro horas nas últimas três noites. Ao menos o pessoal gostou! Foi uma típica aula Uninove, ou seja, muita lousa e muitos exemplos concretos (o único problema é falar todas as merdas que falo em inglês! ...hahahaha... Não quero nem imaginar o que saiu!). Hora de relaxar... Nada melhor que escrever umas besterinhas aqui no blog nosso de cada dia.

Esses dias, passeando por uma dessas redes de contatos pessoais, achei uma frase interessante de uma senhorita para um rapaz, ambos negros. Belfundia dizia assim para Sincrundio: "...Nos [sic] EUA é um paraíso cheio de negros lindos e ricos, desfilando em carrões, diferente daqui [Brasil]. Tudo foi muito bom..." Isso foi uma paulada na minha cabeça, já que pelo final da frase parecia que a garota não tinha só uma vaga impressão dos patrícios gringos via TV ou filmes, mas devia ter vindo para cá. Logo pensei: "Porra, tenho que escrever algo sobre isso". Vamos lá...

É um assunto já batido, mas que com a eleição de Obama tomou um novo fôlego. Resumidamente, poderíamos colocar o assunto da seguinte forma: a experiência de luta, organização e resolução (ou não) dos conflitos sociais/raciais da população negra nos Estados Unidos deve ser utilizada como parâmetro e exemplo para outras populações negras ao redor do mundo? Bem, há teóricos que descartam essa estratégia logo de cara. Cito apenas um: Paul Gilroy. O sociólogo é tremendo crítico do que ela chama de americanocentrismo e de como o padrão de relações racias yankee tem sido exportado para o resto do mundo como sendo a versão mais "evoluída" junto a uma série de produtos que mercatilizam a negritude americana. Dos filmes de Spike Lee ao hip-hop, nada passa incólume aos olhos do sociólogo britânico.

A crítica de Gilroy é algo que deve ser colocado num contexto mais amplo de crítica a hegemonia norte-americana no mundo pós-guerra. A idéia é que até antes dos anos sessenta e o bicho pegando por aqui com a segregação rolando solta, havia uma espécie de valorização de vínculos e ideais políticos que ligavam os afro-americanos ao resto da diáspora negra e ao continente africano. A perspectiva pan-africanista da liderança de Malcolm X, o movimento pelos direitos civis, o Black Power são claros exemplos disso uma vez que sempre apresentavam os problemas dos negros americanos numa dimensão globalizada. Mas isso praticamente acabou ou diminui de forma drástica nos últimos anos. Ouve um esvaziamente de uma perspectiva crítica/política dos negros americanos (o último exemplo talvez tenha sido a luta contra o apartheid na África do Sul que engajou muita gente por aqui) e o resto do mundo hoje só é visto apenas como consumidor dos produtos americanos fabricados por empresas cujos alguns proprietários são negros. Veja o que Gilroy diz na introdução da edição brasileira do seu livro Atlântico Negro em 2001:

http://becomingdutch.vanabbe.nl/blog/wp-content/uploads/2007/12/img_3189.jpg
(Paul Gilroy, numa lecture em 2007)

"Na medida em que as lutas anticoloniais na África pararam de repesentar o papel central que tinham durante a Guerra Fria, os negros de todos os lugares são instados cada vez mais aceitar e internalizar versões de negritude de origem norte-americanas e que circulam através de seus agentes corporativos, chamados a desenvolver remotos mercados para os 'softwares' africano-americanos. [ ] A maior parte do tempo estas perspectivas americanocêntricas são insensíveis às variações linguísticas e as outras diferenças regionais. Seu essencialismo é a opção mais barata aberta aos intermediários corporativos da comunidade negra, tornando tais fatores irrelevantes. Se esta perspectiva de mercado ainda guarda qualquer versão de consciência pan-africana, é aquela que define o progresso pela extensão infinita e insustentável de hábitos de consumo - e de suas distintas visões sobre a hierarquia racial - norte-americanos para todo o planeta. Isto pode ter sido uma fantasia desculpável durante o período do Black Power, do funk e do soul, mas é uma opção profundamente repulsiva na era da globalização do hip-hop e da multi-cultura corporativa. Note-se que a África contemporânea e sem dúvida todo o mundo em desenvolvimento ficam de fora deste quadro" (Gilroy, 2001: 23-24).

Não sei, são muitas coisas ao mesmo tempo. Vamos por partes, já diria Jack, "O Estripador". Acho que primeiro vale a pena falar da real situação da população afro-americana para vermos que há gente negra rica por aqui sim, mas que muitos patrícios não só não andam de carrão como não estão nadando no dinheiro, muito pelo contrário. Por fim, vou tentar mostrar como vem se dando a influência dos negros americanos entre a população negra no Brasil. Mas isso vem nos próximos tópicos.

Paz!

http://www.harlem.org/images/mainimage.jpg
(Reunião de músicos de jazz no Harlem em 1958)

sábado, 21 de março de 2009

Angry Black men! Bailes e Noites Blacks de SP (Part. 3)

Imagine esse post numa sequência cinematográfica...

http://i288.photobucket.com/albums/ll177/delaleo/boondocks.jpg
(The Boondocks, 2005)

Take 1 – Flashback
Numa sexta-feira já perdida no fluir do tempo estava tomando uma cerveja no centro velho de Sampa no reduto da pretaiada, mais especificamente entre as ruas Marconi e 7 de Abril. Conversa vai conversa vem, um truta vira e diz o seguinte: "A coisa mais louca que já vi numa balada black foi um maluco rasgando dinheiro e xingando a gerente do Blen Blen bem na frente do clube”. Corta!

Take 2 – Contextualização
Em 2003 resolvi realizar minha festa de aniversário no Blen Blen Black. Tudo seria perfeito uma vez que o dia 8 de novembro caia justamente num sábado naquele ano. Liguei para a casa e acertei tudo, teria direito a entrar na faixa junto a um acompanhante. Mandei um mensagem de email coletiva para meu amigo(a)s convidando todo(a)s e fiz ligações para os mais chegados. Corta!

Take 3- A "Festa"
Comecei a comemoração já na noite anterior indo ao Sambarylove com minha namorada da época. Dancei, bebi, pulei e me diverti. Cheguei em casa às 8 da manhã de sábado e por volta das 14 horas já estava de pé fazendo preparativos: me presenteando comprando roupas e sapatos novos além de dar uma passada no Cebola – meu grande truta do salão 4P – para dar um trato no belo. A noite prometia!

Por volta, das 21:30 estávamos todos reunidos na Padoca, um lugar misto de padaria, lanchonete e boteco que fica localizado na esquina rua Cardeal Arco-Verde com a Fradique Coutinho na Vila Madalena. Eu, minha amiga Milena “Maloqueira”, Mury Barbosa, Flávio Jay-Z e Vandão numa alegria só! Minha namorada iria chegar mais tarde e encontraria o resto do povo dentro do clube. O mesmo esquema de sempre: tomar várias brejas mais em conta no boteco, MMs, caipirinhas e por volta da 1 da manhã se dirigir para a frente do clube. Bem, é aí que começa a confusão...

Na mesma noite em que eu estava reunindo meus amigos para festejar meu aniversário no Blen, Grandmaster Ney, DJ residente da clube, estava fazendo o mesmo. Ao chegarmos na frente do clube, havia uma fila enorme, como nunca tínhamos visto antes. “No problem”, eu pensei, "Sou um dos aniversariantes da noite e devo ter prioridade"... Doce ilusão! Tentei argumentar com a nossa amiga Fátima, o general gerente, e a mesma foi intransigente: só entrariam mais pessoas conforme outras fossem saindo, a lotação máxima da casa tinha sido atingida. Só alegria, afinal ainda era cedo! Fomos pra fila e enquanto esperávamos íamos nos empanturrando de breja. Minha namorada ainda não havia chegado e minha ansiedade começava a crescer. Depois de uma hora na fila resolvi ir conversar de novo com a gerente, mas a mesma foi inflexível: só entraria mais gente conforme outras saíssem! Comecei a ficar meio puto, já que todos os convidados de Grandmaster Ney chegavam e nem pegavam fila e várias outras pessoas saiam, mas ninguém da fila de “comuns” entrava...

[Do+the+Right+Thing15-tn.jpg]
(cena de Do The Right Thing, 1989)

Cerveja vai cerveja vem e já chegava às 3 da manhã. Tentei conversar de novo com a gerente, mas a mesma nem mesmo chegou a falar comigo. Todos os meus amigos, que não eram poucos, vinham até a entrada e pelas portas de vidro perguntavam o que acontecia que o aniversariante ainda estava do lado de fora da festa. Pelo celular de um amigo, pedi a meu truta Uirá Garcia que falasse com a gerente e explicasse que eu era um dos aniversariantes da noite e todos aguardavam por mim dentro da festa. Ele bem que argumentou, mas nada feito!

Às 3:30 eu estava literalmente no limite. Encontrei um pouco antes com DJ Hum que saía da festa e expliquei minha situação. Ele disse que eu deveria ter calma, mas a minha resposta foi clara e decidida: “Vai baixar a favela”...

[Do+the+Right+Thing44-tn.jpg]
(cena de Do The Right Thing, 1989)

Cheguei em frente a porta de vidro e pedi para falar com a gerente de novo. Os seguranças me enrolaram mais uma vez e disseram que ela estava ocupada. Percebi que não teria a chance de conversar com a fulana, mas minha vontade era de jogar o restante da cerveja que bebia na mesma. Como a vaca já tinha ido pro brejo e vi que ia não entrar na mesma resolvi botar um terror no esquema. Afastei-me dos seguranças que estavam na entrada da casa e arremessei a garrafa de long neck na porta de vidro. Nem a garrafa nem o vidro quebraram, mas os seguranças ficaram assustados e reforçaram a segurança da entrada. O público que estava do lado de fora do clube, e que não era pouco por não ter conseguido entrar, vibrou. Eu, bêbado, gostei do palquinho e resolvi alongar a palhaçada. Tava me sentindo como Radio Rahim (angry Black man da foto acima), personagem do filme de Spike Lee Do The Right Thing (1989), incitando a quebradeira na Pizzaria do Sal (quem assistiu ao filme, sabe do que estou falando!).

Parado no meio da rua em frente ao clube xingava o Blen e a gerente. A essa altura do campeonato muita gente que estava dentro do clube, na pista de dança, veio para o bar/lounge para ver o que pegava. Continuei xingando o Blen e a gerente, dizendo que exploravam a negrada e faltavam com o respeito à clientela. O apogeu se deu quando me baixou o espírito Corinthiano e resolvi agir como os membros da Gaviões da Fiel agem quando querem chamar o jogador de mercenário: “Vocês querem dinheiro??? Eu tenho dinheiro... Quanto é pra entrar nessa merda??? R$ 20??” Nesse momento saquei de minha carteira duas notas de R$ 10... “É R$ 20 para entrar nessa merda?? Eu tenho dinheiro pra entrar nessa merda!! Mas o Blen não vai ter o meu dinheiro...” Num acesso de raiva – e muita palhaçada performática! – rasguei os R$ 20 no meio da rua e joguei no chão (na verdade o pessoal da Gaviões joga notas de R$1 no campo). A galera que assistia tudo foi ao delírio. Gritos, uivos e eu com a alma quase lavada. Ao meu lado, acompanhava tudo de perto meu fiel escudeiro, Flávio Jay-Z, igualmente bêbaço!

Depois de toda a comédia, resolvemos ir embora, ou melhor, voltar para a Padoca, que funciona 24 horas, para tomar mais umas e outras. Ao dar não mais do que uns quinze passos fomos parados na esquina por uma viatura da PM. Os coxinhas já saíram do carro de armas em punho e bradando que colocássemos as mãos pro alto. Eu e Jay-Z fomos jogados dentro da viatura e pela primeira vez na noite voltei a razão: havia feito uma grande merda! Mas uma frase vinda de Jay-Z me fez cair na gargalhada... Sentado comigo no banco de trás da viatura ele esticou a mão e me cumprimentou no estilo black dizendo com um entonação e cara de bêbado: “Kibe, foi lindo!”...

No outro dia acordei com um puta dor de cabeça e só tinha flashes na memória do que tinha de fato acontecido. Lembro de ter levado um capote na delegacia, feito uma denúncia por discriminação contra o clube e obrigado a gerente a comparecer na delegacia – que diga-se de passagem era na esquina do clube – e voltado pra casa sem minha jaqueta nova. Luana, namorada de Flávio Jay-Z, passou um sabão em mim e nele. Comecei a sentir uma imensa vergonha misturada a depressão (estava na reta final do mestrado e o bicho pegava também)... Pra completar, levei outro sabão de minha namorada que não tinha conseguido ir a “festa”, mas que já estava sabendo de tudo por terceiros (os “terceiros” são foda, como dizia meu amigo Morango: “Festival da Denúncia!”). Jurei que nunca mais colocaria os pés no Blen Blen novamente... Três meses depois nós – eu e Flávio Jay-Z – estávamos lá novamente... *rs*
Corta!

Take 4- Redenção
Durante muito tempo morri de vergonha dessa história. Isso rolou até descobrir – encontrando esse maluco no centro da cidade – que todo mundo no meio black andava comentando a palhaçada que eu tinha aprontado com um complemento: “Porra, ele fez o que eu tinha mó vontade de fazer, ó?!” Foi assim que eu soube que meu acesso de raiva tinha virado uma lenda no meio black. O cara que jogou uma garrafa na porta, xingou a gerente e rasgou dinheiro na frente do Blen Blen Black!

The-Boondocks-02.jpg


Vai encarar???!!!

Corta!

FIM

sexta-feira, 20 de março de 2009

It was a long time ago!

É o primeiro dia de primavera em NYC, mas mesmo assim nevou de manhã e a temperatura está na faixa dos seis graus. Vai entender... Quero definitivamente o summertime! Falando em verão, há muitos verões passados fui entrevistado em São Paulo por Lawrence C. Ross Jr., escritor afro-americano de Los Angeles, quando ele viajava por vários lugares do mundo preparando o seu livro The Ways of Black Folks: a Year in the Life of a People (2004). O título é inspirado no livro clássico do intelectual/ativista W.E.B. Du Bois (1868-1963) The Soul of Black Folks (1903), uma coleção de ensaios que é uma das obras fundantes do pensamento social negro nos EUA.


Tenho o livro de Ross, mas esses dias atrás fuçando na web (de novo!) achei o capítulo intitulado São Paulo by Day and Night no qual o escritor descreve o dia que passamos juntos em São Paulo no distante ano de 2001 na companhia de mais dois amigos meus: Alex Vega e João Batista Félix. Naquele dia saímos dos Jardins, fomos para a USP, voltamos para o Centro Velho, tomamos várias cervejas nas Grandes Galerias, enfim, um verdadeiro rolê de vagabundo.

Conversei com Ross via Facebook há algumas semanas atrás e fiquei de resenhar o livro dele de 2007, Money Shot: The Wild Nights and Lonely Days Inside the Black Porn Industry, para o NewYorkibe. A resenha será uma continuidade mais apurada do post Black Porn Movies and Hip-Hop publicado aqui mês passado. Mas isso fica para as férias, porque o semestre anda "osso" na New School!

Abaixo, fotinha histórica comigo e Lawrence de "armas" em punho no subsolo das Grandes Galerias, o famoso Bronx! Batistão está levando uma idéia com alguém lá no fundo... Na outra foto Batistão, Alex e eu na Rua Augusta.

Muita paz!




terça-feira, 17 de março de 2009

BBB: Blen Blen Black (Bailes e Noites Blacks de SP/Part. 2)

Dando continuidade ao tópico iniciado há algumas semanas atrás, vamos falar mais um pouco de noites blacks. Se você quisesse, há até três anos atrás, encontrar os pretos e as mais pretas mais gatos e gatas de SP numa balada de sábado, a resposta era uma só: Blen Blen Black. Ir no Blen fazia parte de um ritual no qual não se podia repetir a mesma roupa, era bom estar abonado de grana para gastar no bar e impressionar as garotas (eis o motivo pelo qual o clube sempre lotava no início do mês) e se você fosse acompanhado(a) era bom que o par estivesse à altura do lugar. Durante vários anos a festa black da casa dominou a cena na Vila Madalena. Os DJs residentes eram Grandmaster Ney - a pista enchia quando o mesmo ia para os toca-discos - e S Jay - a pista esvaziava quando ele, para desespero de todos, tocava, urgh!

https://falconfile.uwrf.edu/home/W1041424/personalweb/minority/minam/afr/oxford/60.jpg

O valor do convite não era dos mais em conta, mas havia vários esquemas para se economizar ou até mesmo entrar na faixa. Exemplos disso eram as mulheres que não pagavam até 23:00 ou se você era amigo do amigo do amigo do Alemão - que segundo consta era o dono da casa - também perigava não pagar. Outros que “levavam um boi” eram os artistas do mundinho black: rappers, DJs e personalidades (o grande problema do meio black é que todo mundo é personalidade!). Outra coisa que não faltava era o famoso xaveco na porta do clube na esperança de se conseguir um desconto no convite ou uma entrada no Vasco (na faixa/free), mas para fazer a triagem e geralmente dizer um não aos pedidos estava lá sempre uma das figuras mais arrogantes da casa, a gerente - que mais parecia um general - cujo nome era Fátima. Quem não conseguia entrar por falta de dinheiro, fama, xaveco ou até mesmo por lotação ficava na frente do clube observando o movimento de saída que também era uma festa. Álias, conheço vagabundos que eram especialistas em xavecar as negas na saída da balada provando que não existe bola perdida! Tinha um grupo de amigos então cujo rolê era pegar um carango e fazer o "rolê das saídas": saída do Blen, saída da Mood, saída do Urbano, saída do Sambarylove, um dia eu até participei da palhaçada e me diverti pacas!

A estrutura do Blen era ao mesmo tempo simples e aconchegante e há duas fases para a mesma: antes e depois de uma grande reforma. Antes da reforma o clube era dividido entre dois espaços inter-ligados, a pista de dança e um bar/lounge com mesas, cadeiras, sofás aconchegantes e um telão que rolavam vídeos de música. Do bar era possível, como som ambiente, ouvir o que os DJs tocavam na pista. Ali era o espaço propício para um flerte, paquera, exibições, conversas, descanso e cochilos provocados pelo excesso de bebida. Uma coisa muito interessante do clube é que a fachada da casa era composta de enormes portas de vidro que propiciavam o vislumbre de parte do público que estava no bar. Ali público e privado, para delírio dos voyeurs, se misturavam.

A entrada, antes da reforma, se dava pela pista e tinha-se a opção de alcançar o bar cruzando a pista ou não. Minha sensação ao entrar no clube pela pista, sempre bêbado diga-se de passagem, era de me transportar para dentro de um clipe de rap, R&B ou algum filme blaxploitation. Era isso mesmo! A pista lotada, gente dançando sem parar e outros observando ao redor ou sentados numa espécie de “arquibancada” que contornava a pista e o palco (era uma casa de shows também). Parecia que todo mundo havia gasto todo o salário do mês comprando Nikes, Adidas, conjuntos esportivos, jaquetas, bonés, blazers, camisas transadas, camisetas oversize, vestidos, saltos, sapatos platafoma, calças jeans bag, indo ao salão de cabeleireiros e ousando fazer algo diferente e caro no cabelo.

Algum tempo depois uma reforma foi feita na casa e algumas coisas foram mudadas. A entrada passou a ser feita pelo bar/lounge que também fazia a passagem para a pista de dança. As arquibancadas foram retiradas e foi construído um palco que nas noites em que não havia show funcionava como mezanino que ficava mobiliado por sofás e puffs. Um pequeno salão um nível abaixo da pista principal também foi aberto. Enquanto os DJs na parte de cima mandavam ver nos toca discos sucessos de rap (gringo e nacional), R&B e ragga, na parte de baixo do clube um outro DJ mandava ver no samba-rock e casais trançavam os braços a noite toda.

Há várias estórias engraçadas que presenciei na casa. Por exemplo, tem uma que meu amigo Flávio Thales adora contar e diz respeito aos “pretos estilosos” que chegavam no clube metendo a maior banca: roupas de grife, pares de tênis da melhor marca e brilhando como novos e óculos escuros à noite. Parecia que os trutas haviam saído diretamente do Harlem ou do Brooklyn e pegado um vôo NYC-SP para ir a Vila Madalena curtir (aliás, o Blen Blen parecia o Harlem ou Brooklyn nas noites de sábado!). Pois bem, muitas vezes eu e Flávio trombávamos os ditos “pretos estilosos” no banheiro tomando água da torneira após uma mijadinha básica, provavelmente por não terem grana para comprar um refrigerante ou mesmo água que não saía por menos de R$ 3 a lata ou garrafa. Mó prejuízo era oferecer parte da sua cerveja a um “preto estiloso” conhecido seu: o cara ficava segurando a cerveja por horas como se a lata ou garrafa long neck fosse dele e quando finalmente te devolvia a mesma vinha com metade do conteúdo. Era por isso que quando eu tinha algum “preto estiloso” como companhia, ao comprar cerveja já separava a dele, dava menos prejuízo!

Outro tipo bem interessante que habitava o Blen Blen Black era o das “minas difíceis”: bonitas, bem vestidas, cheirosas e difíceis, obviamente! Levei vários foras de minas difíceis... *rs* Também havia os casais apaixonados que passavam a noite se beijando, os artistas, os bêbados – que sempre acabavam a noite dormindo e babando sozinhos em algum sofá – e o tiozões que não se tocavam que deviam estar sim num baile nostalgia e não no Blen! O tipo masculino que retirava suspiros das garotinhas eram os "basqueteiros": negros altos e fortes usando toda parafernália hip-hop (camiseta, tênis, moleton, boné etc) que, se preenchesem esses requisitos, nem precisavam jogar basquete.

Há estórias engraçadas também com o(a)s gringo(a)s que iam ao Blen Blen. Uma amiga americana um dia chegou toda horrorizada para mim dizendo que não entendia como as pessoas no Blen podiam cantar tão alegremente a letra de uma canção do finado rapper Big Pun (ainda vivo na época) intitulada My Dick (meu pinto). “Simples”, respondi, “eles não entendem inglês!” E o refrão da música era bem animado: “...Get off my dick (my dick) my dick (my dick) My dick my dick my dick...” Queira ou não essa era uma das músicas que mais fazia sucesso no clube, era tocar e todo mundo saía dançando! Ir ao Blen acompanhado de pretos norte-americanos então era como levar mel na casa de urso: todo mundo virava seu amigo! Em uma outra noite fui ao clube com duas norte-americanas negras e sabe lá de onde apareceu na minha frente um rapaz asiático todo ornamentado a la hip-hop falando inglês comigo e as garotas. O truta dizia que morava em NYC e fazia um esforço desgraçado para mostrar todos os seus anos de Cultura Inglesa mais uns meses de Big Apple cortados por fucks, yos, motherfuckers e I don’t give a shit! Tudo ia bem até o rapaz soltou um “...My nigazz told me...” e a gringas ficaram putas da vida com o trutinha que não tinha a mínima noção da carga pejorativa que o termo nigger carrega. Tive que literalmente segurar uma delas – que não era nada pequena – que queria partir pra cima do moleque!

Meus amigos e eu passamos a usar um termo para parte do público do Blen Blen – que desprezávamos e adorávamos ao mesmo tempo – que resumia o ambiente: “make believe”. O termo foi cunhado pelo sociólogo americano Franklin Frazier (1894 –1962) em seu livro clássico Black Bourgeoisie (1957). O “make believe” era uma estratégia usada pela classe alta de negros americanos para legitimar seu status e posição social. Uma vez comparada com a classe alta de brancos nos Estados Unidos, o poder econômico e político desses negros era muito pequeno, mas mesmo assim eles se esforçavam ao máximo em adotar os valores, modelos, convenções, indumentária e etiquetas dos brancos de classe média ou ricos no sentido de se diferenciar da massa de negros pobres com os quais dividiam o mesmo espaço no gueto. O “make believe” correspondia ao “fazer crer/acreditar” que eles compunham a elite, os bem sucedidos e superiores na hierarquia social exibindo traços de distinção social que iam desde roupas até ao uso de etiqueta social e trejeitos.

Eu e meus amigos – como bons intelectuais – tínhamos essa mania de afirmar nossas origens operárias/trabalhadoras: antes de entrar na universidade um tinha sido office-boy e vendedor de parafusos, o outro também office-boy e o terceiro feirante. Tentando evidenciar nossa consciência de classe freqüentávamos o Sambarylove às sextas-feiras que era justamente o oposto do Blen Blen. Falávamos mal do Blen Blen, afirmando como a galera que ia na Vila Madalena era vazia, alienada e fake. Mas como bons intelectuais que éramos – desprezando os valores de classe média mas fazendo parte dela – todo sábado do mês após recebermos o pagamento de nossas bolsas de pesquisa íamos para onde... Blen Blen Black!

Nossa estratégia era sempre a mesma: chegávamos por volta das 23 horas. Em vez de entrar, ficávamos "gelando" em bares dos arredores, já que a cerveja era muito mais barata, e aditivando seu efeito com o acréscimo de uns “quebra gelo”: conhaques, caipiras e o tradicional e bem paulista MMs ou Maria Mole (Martini com conhaque e gelo, urgh!). Geralmente entrávamos no clube por volta das 1 da manhã “daquele jeito”, não sem antes pegar uma fila básica na porta da casa uma vez que esse era o horário que a festa começava a pegar fogo. Muitas palhaçadas rolaram nessas baladas, a maior contarei no próximo e último post da série.

Paz e muito amor!

domingo, 15 de março de 2009

Negra Elza, Elza Negra

Elza_soares

Elza Soares é uma das muitas mulheres pretas brasileiras que merece uma grande biografia. Quem me dera pudesse escrevê-la. Mulher talentosa, linda e forte! Como se não bastasse ter sido abusada quando criança e mãe precoce, na vida adulta trabalhou como doméstica antes de fazer sucesso como cantora e posteriormente enfrentou um país conservador que a acuvasa de ter destruído um lar devido ao seu relacionamento com Garrincha. Por fim, ainda encarou o alcoolismo do então marido. Em A Estrela Solitária, biografia de Garrincha escrita por Ruy Castro, consta que Elza era muita vezes agredida verbalmente na rua por desconhecido(a)s.

Elza, diferente do que você canta em uma das suas canções, a sua carne negra não é a mais barata!

Pra quem nunca ouviu a nega, abaixo videozinho (detalhe para a bandeira do "Curintia" na parede *rs*)... Paz!

sábado, 14 de março de 2009

Lula lá, Obama cá!



Adoro o Lula, ele é o presidente mais brasileiro que o Brasil já teve! *rs* Cheio de piadas pra contar, corinthiano, gosta de tomar uns "drinks", adora o poder (e quem não gosta?), nordestino que emigrou para São Paulo, oriundo das classes populares, odiado pela classe média e alta (principalmente do sul/sudeste) e vive estabelecendo intimidade onde não há intimidade nenhuma. Ou seja, como no título de um filme vagabundo, curtindo a vida adoidado! Só faltava ser preto! Sempre topo com uns brasileiros assim por aqui...

No encontro entre Lula e Obama - parece escalação de time de futebol de várzea - hoje de manhã em Washington DC, nosso presidente mandou uma piadinha para o truta gringo: "Digo ao povo do Brasil que estou rezando mais para Obama do que para mim mesmo, porque com apenas 40 dias de mandato, ele já pegou um pepino [crise econômica] desses", disse Lula, ante risadas gerais. "Você deve ter falado com a minha mulher", disse Obama.

Dá-lhe Lula, só na marolinha!

sexta-feira, 13 de março de 2009

Amorzinho seguro e estiloso!

Ok, se você veio correndo para New York Shit e não teve de comprar nenhuma lembrancinha pros amigos, dê uma ligadinha para o 311 para saber qual o lugar mais próximo de conseguir umas NYC condoms. Esse preservativo é distribuido gratuitamente pela prefeitura da cidade como parte das iniciativas visando diminuir os riscos de gravidez indesejada e proliferação de doenças sexualmente transmissíveis como HPV e AIDS. Dê para seus amigos fazerem sexo seguro e com estilo lembrando da Big Apple!



Visite o site da campanha aqui e assista os vídeos nas versões latin, hip-hop e jazz. Bem divertidos... I wanna get, you wanna get some... get some get some! Diz a letra do rap na versão hip-hop!

Paz e USE SEMPRE CAMISINHA AO TRANSAR, mesmo ela não sendo uma NYC condom!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Rihanna X Chris Brown X Mídia

http://www.thehollywoodgossip.com/images/gallery/rihanna-and-chris-brown-picture.jpg

Em tempo: a polêmica Rihanna-Chris Brown fica cada vez mais quente nas revistas de fofoca gringas. Não li absolutamente nada, mas sempre que passo em frente a uma banca de jornal paro para olhar as manchetes das Caras e Ana Marias daqui. Há especulações de que Brown teria afirmado que a agressão fora em legítima defesa, de que Rihanna estava grávida quando ocorreu a agressão, que o casal voltou, de que Brown a havia espancado outras vezes e até mesmo que o garoto com cara de bom moço a ameaçou de morte. Os editores riem e comemoram as vendas enquanto parte da população afro-americana morre de vergonha e lamenta o ocorrido.

Mas como disse meu amigo Flávio Thales em um comentário, esse problema já é, infelizmente, velho conhecido da negrada por aqui. Alguém da minha geração é muito novo para sacar o doidão Ike Turner como exemplo: ex-marido, parceiro musical e agente de Tina Turner que espancava a nega sem dó (há um filme, cujo título não lembro, bastante interessante e triste sobre a história dos dois). Outro exemplo é Bobby Brown, ex-garoto prodígio do New Edition que se casou com Whitney Houston e também espancava a ex-esposa. O Brasil também tá cheio de pilantras que batem em mulher, não é à toa que existe a lei Maria da Penha. Tô lendo a biografia do Tim Maia e descobri que ele deu uns colas na primeira mulher. Na boa, cadeia nesses pretos! (e nos brancos que espancam mulheres também...)

É ou não é?

A pergunta é: ela seria preta no Brasil???

SI.com - 2007 Swimsuit - Beyoncé

Lembrando que a sister da foto acima é Beyoncé Gisele Knowles, esposa de Shawn Corey Carter a/k/a Jay-Z. Pois é trutas, nem adianta crescer o "zóio", pois a menina já tá comprometida! Respondam a enquete lá no comments...

terça-feira, 10 de março de 2009

Dança um rock, preta?

O texto que segue abaixo é, de certo modo, datado. A tentativa à época em que escrevi era de descrever o surgimento do samba-rock na cidade de São Paulo. Publiquei o mesmo na revista Histórica número 15 (julho/agosto/setembro de 2004), uma publicação trimestral do Arquivo do Estado de São Paulo. Ainda gosto dele, apesar de várias imprecisões. Tem uma pegada mais acadêmica, mas é digerível para ler *rs*. Dica: pra quem nunca viu um casal dançando samba-rock, entre aqui e veja meu amigo Professor Moskito dando uma aula na velha tradição e pegada maloqueira de SP. Para saber de eventos de samba-rock visite os blogs Samba-Rock na Veia e Na Onda do Samba-Rock Enjoy o texto e mandem comentários, o autor agradece!

HORA DE TRANÇAR OS BRAÇOS, HORA DE DANÇAR SAMBA-ROCK!

http://www.assumption.edu/users/mcclymer/His130/P-H/Harlem2/jeunesse.jpg
Imagem 1

Com o passar do tempo e um certo avanço das pesquisas em estudos afro-brasileiros, cientistas sociais em geral cada vez mais evitam usar a expressão "negro brasileiro" de maneira genérica. Do ponto de vista do aspecto cultural, entendendo cultura como produção material nos mais diversos âmbitos, essa expressão é empobrecedora e, por esse motivo, tende a ser evitada. Paulatinamente nos certificamos de que a experiência afro-brasileira é multifacetada e, muitas vezes, a análise que é elaborada para um determinado locus não elucida nada a respeito de outro (Berriel, 1988). Diante disso faz-se necessário um esforço de inserir pluralidade ao "negro brasileiro", vendo por trás dessa expressão tão abstrata uma miscelânea de grupos como os afro-baianos, os afro-paulistas, os afro-mineiros e assim por diante.

Meu interesse neste artigo é focar traços de singularidade dos afro-paulistas. Para isso tentarei analisar sociologicamente o surgimento de uma dança característica desse grupo, o samba-rock. O texto tem como objetivo apresentar o samba-rock como uma manifestação cultural específica da comunidade negra paulistana e de cidades do interior do estado.


Imagem 2

O que é o samba-rock?

"O que hoje se chama samba-rock, ou batida Jorge Ben, fomos nós que criamos. Na realidade, montamos o ritmo. Ele tinha a batida de violão e nós montávamos o ritmo que dava certo com o violão dele. Fizemos uma batida com a levada do violão, mas com um acento de rock". Nereu - percussionista do grupo Trio Mocotó.

"Olha mano, na verdade é o seguinte: o samba-rock, pra mim, no meu modo de ver, não chega nem a ser um estilo musical, tá? Pra mim é muito mais um estilo de dança". Gordo - DJ e proprietário da Gordu's Discos.

"Quando eu inventei essa batida, chamava de sacundin sacunden, depois, na época da jovem guarda, virou jovem samba e, mais tarde, sambalanço". Jorge Benjor

"Samba-rock...? Esse negócio de samba-rock não existe. Foi branco (com desprezo) que inventou isso aí. Foi branco!". Amauri - DJ de samba-rock.

https://www.ifmusic.co.uk/images/product_images/jorgebenjorgeben.jpg
Imagem 3

O que vem a ser samba-rock? Esta é uma pergunta que vem intrigando muitas pessoas ultimamente. Estilo musical? Estilo de dança? Movimento cultural? Não há uma resposta satisfatória, mas as frases acima parecem buscar legitimidade para se tornar versão oficial. Aqui se evidencia a relação explicitada por Pierre Clastres (1988), no último capítulo da sua obra A Sociedade Contra o Estado, entre poder e palavra: o que se fala, em nome de quem se fala e para quem se fala. Podemos ver que DJs e músicos falam de lugares diferentes e representam interesses diferentes. Parece-nos que aqui caberia bem a expressão utilizada no título de uma obra organizada pelos historiadores Eric Hobsbawn e Terence Ranger (1984), A Invenção das Tradições, como a idéia presente. O que se evidencia nas falas acima é a tentativa de criar uma história legitimadora e uma tradição para o que se denomina "samba-rock". Uma história enfatiza a dança e, a outra, a música. Para esses historiadores não importa que a história seja verdadeira ou não, mas sim que faça sentido para os indivíduos envolvidos, evidenciando uma ligação da manifestação cultural com um período histórico passado ao mesmo tempo em que a "história contada" explicite vínculos com o presente. Em suma, um processo de invenção de tradição.

http://ecx.images-amazon.com/images/I/41R8QCV305L.jpg
Imagem 4

Samba-rock dança X samba-rock ritmo

"Samba-rock é tudo aquilo que dá pra dançar no estilo de dança samba-rock". Marcão - proprietário do salão Green Express.

"O gueto, uma reunião de negros nos Campos Elíseos em 1958". É assim que Antonio Boaventura, o Tony Hits, começa a contar a gênese do samba-rock em São Paulo. Tony é proprietário da mais famosa loja de samba-rock da cidade, a Tony Hits Discos, que fica nos fundos do Green Express - o mais freqüentado salão de samba-rock da região central - localizado na Avenida Rio Branco. Assim como os outros DJs entrevistados, ele vê o samba-rock como uma dança, e não como um estilo musical.

Em fins da década de 1950, as opções de lazer para os negros eram poucas. Os bailes de orquestras eram caros e nem sempre aceitavam a presença de negros. Os shows de artistas e os teatros eram também pouco acessíveis, sobrando apenas os cinemas ou o footing pela Rua Direita, na região central, aos domingos. Nessa mesma época, Seu Osvaldo, um senhor que trabalhava como técnico eletro-eletrônico e morava na região dos Campos Elíseos, tentou montar um aparelho para tocar seus discos de maneira amplificada. A adaptação deu certo e Seu Osvaldo começou a fazer festas de garagem e de quintal na sua casa e de amigos. Com o decorrer do tempo houve uma proliferação dessas festas de garagem e de quintal e começou a existir um público, predominantemente negro, apreciador desses encontros.

O que passava pelos toca-discos improvisados eram vinis de jazz, samba, orquestras, rithym & blues dos negros e rock and roll dos brancos americanos, além de ritmos caribenhos como o mambo e a salsa. A maneira de dançar era muito próxima a do rock dos anos 1950: aos pares de mãos dadas e várias voltas ao redor do corpo dos dançarinos. Com o tempo, incorporaram-se movimentos típicos do samba e dos ritmos caribenhos. O que diferenciava essa dança do rock era a sua sutileza, o swingue. A definição que Tony Hits dá de samba-rock engloba tudo isso: "O samba-rock é um estilo de dança. É um aglomerado de músicas que dão ritmo e se dança o samba-rock". O nome teria vindo da ordem em que as músicas eram tocadas: um rock depois um samba; outro rock seguido de um samba e assim por diante. O primeiro rótulo dado foi "rock-samba" e depois surgiu o termo "samba-rock".

Essa dança permaneceu por mais de 40 anos sem ser conhecida pela mídia e pelo grande público. Sempre esteve restrita aos bailes de negros, que aconteciam na periferia ou no centro velho, às festas de casamento, aos noivados, aos batizados e aos churrascos dessa comunidade. Algo interessante e que vale a pena ressaltar é que não existiam escolas de samba-rock - só recentemente isso tem aparecido - afinal, ela era um tipo de dança que se aprendia "naturalmente", pois fazia e faz parte da experiência e do estilo de vida da comunidade negra paulistana.

Ao conhecer uma garota negra chamada Regina, em uma visita ao Green Express, perguntei-lhe como ela havia aprendido a dançar, ao que a moça respondeu: "Bem, eu fiz algumas aulas, mas para falar a verdade eu já sabia. Ah, você sabe, né? Samba-rock é coisa de preto e aí já viu, você aprende em casa". Assim, percebe-se que o aprendizado da dança se dá na vivência diária dos negros. Ouvi casos de pessoas que aprenderam a dançar com a porta ou com a roupa pendurada no varal.

A definição de Marcão, citada no início deste tópico, é interessante, pois mostra que qualquer tipo de ritmo pode ser rotulado como samba-rock desde que "caia" bem para dançar. Nos anos 1960, contudo, surge uma série de músicos influenciados pela música dos negros americanos e pelo rock and roll da época. O melhor exemplo é Jorge Ben (ainda não era Benjor) que, através da incorporação da guitarra elétrica no samba, passa a fazer o que alguns chamariam de "samba swingado".

Este ritmo cairia como uma luva para as performances dos dançarinos da dança paulistana. Devido a isso o ritmo produzido por Ben e outros artistas como Bedeu, Marku Ribas, Bebeto e Trio Mocotó, para citar apenas alguns, se estabelece como a melhor definição do que seria o "ritmo samba-rock". Mas nessa época este tipo identificação partia muito mais dos freqüentadores de bailes e dançarinos do que dos artistas. Em fins dos anos 90, surgem várias bandas que se vinculam ao ritmo samba-rock, como Clube do Balanço e Faru Fino, seguidas de uma disputa pela paternidade da criança entre os músicos mais antigos.

Enfim, o samba-rock, estilo de dança ou ritmo musical, evidencia como na busca por uma forma de lazer os negros paulistanos dos anos 1950 e 1960 acabariam criando algo peculiar a sua experiência na metrópole. Mais do que opositores, os dois discursos podem ser encarados como complementares, pois ambos fazem sentido para os atores sociais envoltos nesses espaços de sociabilidade e lazer. Além disso, pela apuração do olhar, percebe-se que o samba-rock é apenas um dentre vários outros elementos constitutivos da sociabilidade dos negros paulistanos. Esses elementos formam um circuito black, como chamou o antropólogo José Guilherme C. Magnani (1998), composto por lojas de discos, salões de cabeleireiros, escolas de samba e festas religiosas.

O surgimento desse circuito é fruto da experiência da comunidade negra na cidade desde o início do século passado e a sua relação com o espaço urbano, que é mediado pelos problemas raciais e de integração social. Florestan Fernandes (1965) expõe bem essa idéia ao falar da "ressocialização" na qual o negro da capital paulista foi inserido após a abolição. Diz ele que "ao decidir permanecer na cidade, apesar de tudo, o negro optou por um estilo de vida, por uma concepção do mundo e por ideais de organização da personalidade. Sem o saber, ao longo dos anos da desventura foi assimilando, ao acaso, um pouquinho de cada coisa. Por fim, concentra-se, subjetivamente, num urbanita, embora ostentasse essa condição de forma precária, tanto psicológica quanto sociologicamente" (Fernandes, 1965: 19-20).

A "ressocialização" de que fala o sociólogo paulista é responsável pelo surgimento do "novo negro" que se contrapõe ao negro ainda vinculado, social e psicologicamente, à escravidão. Em fins dos anos 1950 e início dos anos 1960, com o crescimento da influência cultural dos Estados Unidos no pós-guerra e com uma certa melhoria do acesso a aparelhos eletro-eletrônicos, como as vitrolas, e aos bens culturais, como os discos de vinil, os negros paulistanos experimentam um maior contato com a musicalidade dos afro-americanos que trazia a reboque uma "atitude" política e racial. Entra aqui a noção de Atlântico negro, de Paul Gilroy (2001), ou seja, a circulação de idéias políticas, ritmos musicais e manifestações culturais entre as populações negras nessa região da diáspora africana.

Se a juventude branca de classe média se deixava influenciar pelo rock and roll e criava o "ieieie", os negros animavam as suas festas de garagem ou jantares dançantes ao som de jazz e soul, produzidos pelos negros norte-americanos, ou de música caribenha, sem deixar de lado o samba brasileiro. O samba-rock e os bailes negros contemporâneos surgem nesse contexto. Qualquer festinha de preto paulistano tinha (e tem) jazz, samba, soul, jovem guarda, MPB, rock and roll, bossa nova e vários casais "trançando os braços". Tudo isso é samba-rock!

Bibliografia
BERRIEL, Maria M. O. Identidade fragmentada: as muitas maneiras de ser negro. São Paulo, 1988. Tese (Doutorado PPGAS), Universidade de São Paulo.
CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado.Rio de Janeiro: Francisco Alves,1988.
FÉLIX, João Batista de Jesus. Chic Show e Zimbabwe a construção da identidade nos bailes black paulistanos. São Paulo, 2000. Dissertação (Mestrado PPGAS), Universidade de São Paulo.
FERNANDES, Florestan (1965). "Movimentos sociais no 'meio negro'" In: A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Dominus Editora/Editora da Universidade de São Paulo, 1965. V. 2.
GILROY, Paul. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo: Editora 34; Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001.
HOBSBAWN, Eric & RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
MACEDO, Márcio e Luciane Silva. Quem não dança segura criança: samba-rock, uma dança de negros paulistanos. Trabalho de conclusão da disciplina "Práticas culturais no contexto urbano" do curso de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo. 2º Semestre de 2001.
MAGNANI, José Guilherme Cantor. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade. São Paulo: Brasiliense, 1984.
MAGNANI, José Guilherme Cantor. "Transformações na cultura urbana das grandes metrópoles". In: MOREIRA, Alberto Silva (org.), Sociedade global: cultura e religião. São Paulo: Universidade São Francisco, 1998.
Revista Showbizz, outubro de 1998.
Revista Raça Brasil, maio de 2000.
RISÉRIO, Antonio. Carnaval Ijexá. Salvador: Corrupio, 1981.
SANTOS, Joel Rufino dos Santos. "O Movimento Negro e a crise brasileira" In: Política e Administração, São Paulo, Rio de Janeiro, n. 2 (jul-set. 1985), p. 287-307.

Webgrafia
BARBOSA, Marco Antonio. Marco Mattoli e sua saga rumo ao swingue. 20/07/2001. Disponível no site www.cliquemusic.com.br
ESSINGER, Silvio. Samba-rock: o legado de Ben Jor para o pop. (s.d.). Disponível no site www.cliquemusic.com.br

Videoiconografia
Swingue (título provisório). Direção de Daniel Lieff e Tocha. Black Ninja Filmes/Gravadora Regata (2001).

Notas
*As informações aqui inseridas foram coletadas nas entrevistas com Tony Hits (DJ e proprietário da Tony Hits Discos) e Gordo (DJ e proprietário da Gordu's Discos) realizadas por mim no segundo semestre de 2001.
* O trabalho foi primeiramente apresentado como monografia na disciplina Práticas Culturais no Contexto Urbano, ministrado pelo professor José Guilherme Cantor Magnani e oferecida pelo departamento de antropologia da USP ao curso de graduação em ciências sociais no segundo semestre de 2001.

Imagens:
Imagem 1: Pintura vinculada ao movimento Harlem Renaissance onde se vê casal dançando jazz no Harlem nos anos 1920.
Imagem 2: Flyer de promoção de baile nostalgia em São Paulo.
Imagem 3: Capa do disco Força Bruta, Jorge Ben (1970).
Imagem 4: Capa do disco Trio Mocotó (2001).

segunda-feira, 9 de março de 2009

Coisas engraçadas: coluna social da pretada!

7:43 am em NYC. Depois de passar a noite estudando na Bosta, ops, Bobst Library (NYU) estou em casa lendo, fuçando na web e ouvindo Notourious BIG no iTunes. É nessas horas, em que se deveria estar dormindo e descansando para as aulas, que você começa a inventar coisas bestas pra fazer do tipo "googar" o próprio nome... Fiz isso e fiquei assustado! Veja o que achei:



Kibe, numa foto durante evento no SESC Paulista em SP há cinco anos atrás. Fazendo cara de compenetrado, mas morrendo de fome e tentando entender uma palestra em inglês... Atualmente camelando na grad school The New School For Social Research (NYC)...



Jay Z antes de viajar para os Estados Unidos, fazer sucesso e conhecer a Beyonce?!... Não não, é o Flávio Thales com cara de angry Black man - na verdade ele estava com fome também - meses antes de ir para seu intercâmbio na Howard University, Washington DC. Atualmente o negrão, no intervalo entre uma Heinecken e outra, tenta fechar o texto da dissertação de mestrado em história na USP...



Luciane Silva (Luli) minha colega de turma na USP. Sempre estilosa a preta! Atualmente antropóloga com mestrado pela Unicamp e namorada de Allan Rosa (escritor periférico e pós-graduando na educação USP)...



Jeferson De nessa época ainda não havia ganho um quiquito em Gramado pelo seu curta Carolina, mas já tinha terminado o curso de cinema na ECA/USP e tava cheio de moral! Atualmente o figura está de rolêzinho pelo continente africano e ao mesmo tempo finaliza seu primeiro longa, Bródi, que, segundo ele, entrará em cartaz nos cinemas ainda este ano. Visite o blog do negrão aqui. Tem receita de bolo de fubá, notícias da montagem do filme e ele não responde comentários! *rs*



Professora Rosangela Malachias: "Cê eu tô com o microfone... É tudo no meu nome!" Até algumas semanas atrás ela estava passando uma temporada em Washington DC como bolsista num programa da Fulbright.



Professora Luciene Barbosa como Rosangela, "na pegada do mike!" Luciene, por onde você anda????

As fotos foram tiradas no evento Mídia e Etnicidade ocorrido em maio de 2004 e organizada pelas professores Rosangela Malachias e Luciene Barbosa. Veja todos as fotos aqui.

Para finalizar, Batistão (esse não precisa de apresentações!):



Professor da Universidade Federal de Tocantins! Roubei essa foto do Lattes dele... *rs*

Todo mundo aqui já foi ou é USPior: Preto(a)s e Uspiano(a)s!

Paz!

sábado, 7 de março de 2009

Flyers, circulares e Jam Black

Você já colecionou flyers, ou como diziam há algum tempo atrás, "circulares" de baile? Pois é, eu colecionava e tinha alguns bem valiosos como o de divulgação do primeiro show de Ice T e, posteriormente, de Public Enemy no Brasil. Depois de algum tempo fiquei de saco cheio daquele monte de papel e dei para um amigo meu colecionador que, espero, tenho guardado.

Mas o legal dos flyers ou circulares de festas blacks é que elas tem mudado com o decorrer do tempo e ficado cada vez mais interessantes e bonitas graças em parte à tecnologia e também a criatividade dos responsáveis pela festas que já sacaram que o público se liga na qualidade desses pequenos papéis. Diante disso, resolvi postar aqui o flyer que recebi do pessoal da Jam Black cuja festa vai rolar no próximo dia 14 de março lá em SP no Hole Club. O flyer é bem estilosão! Infelizmente, a distância me impede de comparecer no evento, mas se você estiver em SP vale a pena chegar!





quinta-feira, 5 de março de 2009

Bailes e Noites Blacks de SP (Part. 1)

Já há algum tempo ouço amigos mais velhos que eu e originalmente de SP falarem com nostalgia das festas que ocorriam na casa noturna Sowetho e de como aquele tempo havia sido bom. Localizado na rua João Moura, na famosa área nobre dos Jardins, o período de funcionamento desse clube está inserido no contexto da chegada das festas que ocorriam na periferia ou regiões deterioradas – centro velho – da cidade de São Paulo as manchas de lazer nobres. Nesses últimos espaços não ocorriam/ocorrem “bailes black”, mas sim “noites black”, uma vez que apenas uma noite da programação semanal do clube era reservado ao som de preto que começava a fazer a cabeça dos jovens, na sua maioria brancos, de classe média e alta. Posso estar enganado, mas a primeira experiência desse tipo foi o SubClub, festa que ocorria no subsolo do Columbia Club localizado na rua Estados Unidos. O Sowetho teve pouco tempo de existência e deve ter fechado em 1996 (corrijam caso eu esteja enganado!). Mesmo assim marcou época.

Eram outros tempos! A internet engatinhava no Brasil, era ainda difícil pacas ter acesso a discos e CDs importados, a cena de música eletrônica praticamente não existia com força e os estilos estavam todos misturados: hip-hop, house, techno, dancehall, putz putz e por aí vai! Não é à toa que Mark Mark e Patife, hoje celebrados e internacionalmente conhecidos disc jockeys (DJs) de drum and bass, começaram tocando em bailinhos de periferia antes de se meterem com um ritmo para o qual muitos torciam o nariz à época: jungle. As fronteiras de classe/raça/estilo não estavam muito bem delimitadas e se alguém queria saber das novidades provavelmente teria que se aventurar nessa miscelânea.

DubPyro-1.jpg picture by djdubstrong

As equipes de som como Chic Show, Kaskatas, Black Mad, Zimbabwe, Circuit Power dentre outras menores, continuavam a fazer suas festas na periferia e ganhavam uma grana. Contudo, o surgimento das “noites blacks” apontava novos caminhos para o entretenimento negro em SP. A globalização e a informatização da sociedade via disseminação da web mudou a maneira como as pessoas ouviam, compravam música e se divertiam. Com a estabilidade econômica trazida pelo real e o dólar em queda, ficava muito mais fácil comprar discos e CDs importados assim como aparelhos eletrônicos. A mudança ecônomica e tecnológica possibilitou que DJs, antes atrelados as equipes, tivessem a chance de trilhar caminhos próprios. Caso o DJ tivesse certa projeção, ele poderia animar as “noites blacks” atraindo público por meio de seu nome, sua popularidade e seu acervo musical. Esse movimento tirava o foco de atração das equipes.

A combinação entre surgimento das “noites blacks” mais a autonomização dos DJs aos poucos retirou das equipes de som – cujo os proprietários eram negros – a exclusividade de trabalhar com música negra que elas tinham desde início dos anos 1970 e também o público negro de classe média que frequentava sua festas. Entre o público negro apreciador de bailes, principalmente dos mais aquinhonhados, havia disposição em freqüentar as “noites blacks” uma vez que as casas eram mais confortáveis provendo seus clientes com uma série de serviços que não estavam disponíveis nas festas de equipes de som como estacionamento com serviço de manobristas, ar-condicionado, bares requintados, aceitação de cartão de crédito, fácil localização, listas Vips, descontos nas entradas etc. Os preços mais elevados dos convites e a sofisticação dos lugares também estabeleciam uma distinção de classe no consumo do lazer e os aproximavam de um público branco de classe média e alta. Esses últimos, por sua vez, antes da ascensão das “noites blacks”, tinham dificuldades em frequentar “bailes blacks” uma vez que esses aconteciam em bairros periféricos e estavam envoltos num imaginário de violência, criminalidade e hostilidade a pessoas não negras. Muitos deles tinham medo de sofrer nos bailes o que vários pessoas no Brasil equivocadamente chamam de “racismo as avessas”, em outras palavras, hostilidades de negros contra brancos.

Mesmo com todos os atrativos das “noites blacks” para ambos os públicos, muitos promoters desse eventos tiveram que suar a camisa para fazer as festas vingarem de início. Lembro de uma conversa que tive com um amigo negro – exímio dançarino de samba-rock – à época em que o mesmo se gabava de ser convidado para várias “noites blacks” devido sua popularidade e nunca pagar para entrar. “Porra Kibe, os caras tão fazendo umas festas aí com música de preto, mas precisa de uns negrão pra colar porque o barato só tem branco. Daí já viu né, os caras me chamam lá pra dar uma força e chamar um pessoal”, afirmava ele todo se gabando em meio as algumas cervejas e várias risadas.

Apesar de ter conhecimento de clubes noturnos do início da década de 1990 em SP, o fato de não morar ainda na capital me impossibilitou de frequentá-los logo no seu início. Só vim a conhecê-los de fato a partir de 1997, ano em que me mudei para a Terra da Garoa e período no qual as “noites blacks” passaram a dominar o cenário do entretenimento negro e se tornariam hegemônicas.

Mood, Dolores, Urbano, Branca Leone, Show Bar, Salamandra, Rose BomBom, Piranha, BlackLov.E, Black Joy... Várias festas vieram, algumas continuam e muitas se foram, mas uma das mais conhecidas, faladas e frequentadas era a que acontecia nas noites de sábado num clube localizado na rua Inácio Pereira da Rocha, Vila Madalena, chamado Blen Blen Brasil: o Blen Blen Black! Parte dos jovens negros paulistanos na faixa etária dos 20 aos 35 anos deve sofrer de banzo – termo usado para se referir a saudade misturada a melancolia que os escravos sentiam pela terra natal – do Blen Blen Black uma vez que a mesma acabou devido ao fechamento do clube no início de 2007. Não me pergunte o motivo, eles sempre fechavam no mês de janeiro e voltavam no mês de fevereiro, mas na virada de 2006/2007 ocorreu o fechamento, mas não a reabertura. Em minha opinião, Sowetho e Blen Blen Black são marcos. O primeiro do início e o segundo do fim de um período em que ritmos negros produzidos no eixo New York/Kingston/Londres e suas respectivas festas em SP foram uma novidade para a classe média/alta, branca e negra, frequentadora da noite paulistana. Atualmente as equipes de som praticamente se extinguiram, sobreviveram apenas aquelas envolvidas com os baile nostalgia, os DJs ascenderam e o funk carioca, infelizmente, tem finalmente invadido o universo das festas blacks de SP.

Como bom maloqueiro que era - alguns dizem que ainda sou! - frequentei muito o Blen Blen Black e fiz várias palhaçadas por lá. A maior de todas eu contarei num futuro post ao mesmo tempo em que explico porque o Blen Blen se diferenciava das outras "noites blacks"!

Mais informações sobre os bailes negros podem ser encontrados nos textos e vídeos listados abaixo:

Chic Show e Zimbabwe: a construção da identidade nos bailes black paulistanos. Dissertação de Mestrado de João Batista de Jesus Félix defendida na FFLCH/USP em 2001.

"Anotações para uma história dos bailes negros em São Paulo" presente no livro
Bailes: soul, samba-rock, hip-hop e identidade em São Paulo. São Paulo. Quilombhoje, 2007 (o livro também conta com um vídeo com o mesmo título).

"Baladas black e rodas de samba da Terra da Garoa", parte integrante da coletânea Jovens na Metrópole. São Paulo. Editora Terceiro Nome, 2007.

DVD 1000 Trutas 1000 Tretas (álbum de gravação ao vivo de show do grupo Racionais MCs com documentário sobre história dos bailes negros em São Paulo produzido por Mano Brown). Gravadora Cosa Nostra. 2006.

Abaixo um vídeo que achei no YouTube com uma entrevista do meu amigo Humberto Martins, mais conhecido como DJ Hum. Ele dá ótimas explicações sobre a histórias dos bailes em SP...

Paz!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Moro no Jaçanã... Picadilha!

Quem não lembra do samba do Adoniran Barbosa lançado em 1964, Trem das Onze? Com certeza esse deve ser um dos poucos sambas paulistas que os cariocas devem conhecer, já que adoram repetir a famosa frase de Vinícius de Moraes, a saber, que São Paulo seria o túmulo do samba. Tudo bem, Moraes não devia conhecer o velho e bom Geraldo Filme! Mas voltando a Adoniran, sua canção imortalizou o bairro do Jaçanã, localizado à época (hoje já não é mais!) no extremo norte da capital.

Mais de 40 anos depois do sucesso do samba de Barbosa, uma rapaziada da zona norte põe o bairro do Jaçanã novamente no mapa. Relatos da Invasão com certeza é um dos poucos grupos de rap paulistanos que realmente tem personalidade no som que faz. Lembro da primeira vez que ouvi a música Jaçanã Picadilha e fiquei passado já que o som consegue captar a verdadeira pegada do rap de SP: um sampler bem sacado, maloqueragem, ginga e levada muito própria.

Esses dias passendo pelo Revista Elementos topei com o clip do Relatos que foi lançado no mês de janeiro. Gosto do som, mas o clip deixou um pouco a desejar. A letra da música é rica o suficiente para a produção de um grande vídeo, mas infelizmente o grupo preferiu seguir a fórmula, já bastante gasta, de mostrar imagens da área. Faltou um roteiro ao clip que explorasse as rimas tão boas de Jaçanã Picadilha. De todo modo, esse é apenas um detalhe que não tira o brilho do primeiro vídeo do grupo paulistano. Além do mais, as dificuldades em se produzir um vídeo são enormes levando em conta que tudo é feito de forma independente. Abaixo segue o clip do Relatos. Bem-vindos a maloqueragem de SP...

terça-feira, 3 de março de 2009

Daria um filme: tráfico made in USA

Como diz Mano Brown, na letra da canção Negro Drama, "daria um filme!"... Leiam reportagem muito interessante na revista Pesquisa FAPESP sobre o tráfico negreiro para o Brasil feito via Estados Unidos. New York City foi, durante algum tempo, o maior entreposto do tráfico negreiro no mundo. É mole??!!

Paz!

Gordon the Runaway Slave