sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Rappers Orfãos: Hummer se Foi!

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Não é preciso dizer que carros fazem parte da cultura e do estilo de vida norte-americano. Na verdade, a história dos veículos está associada a história dos EUA. Vamos por partes, já diria Jack...  Todo o imaginário do que se convencionou chamar modernidade, processo que ascende definitivamente na virada do século XIX para o XX, está em parte associado a um modo de vida urbano e o avanço tecnológico incorporado em novas formas de transporte: trens a vapor, metrôs, carros e, mais tardar, o avião.

No caso dos EUA, os carros passaram a fazer parte de uma imagem de nação moderna e industrializada. Não é preciso ir longe para se ligar que nomes como Ford, General Motors (GM) e Cadillac foram e são (mesmo com a última crise econômica e o "pacotão" para salvar as montadoras) representantes do poder norte-americano. Até mesmo a idéia de "American dream" (uma família nuclear feliz com casa própria de jardim com grama a ser aparada e situada no subúrbio) envolvia, implicitamente, a necessidade de um carrinho para o papai se deslocar ao local de trabalho, levar os catarrentinhos à escola e a família no shopping mall da vida e/ou igreja aos domingos. Desse modo, sendo tão entranhados na cultura americana, não é de se estranhar que carros também sejam uma obsessão dentro do hip-hop.

Low riders (carros, geralmente modelos Cadillac dos anos 1960/1970, adaptados com suspensão especial) eram a sensação do começo dos anos 1990 quando rappers, em sua maioria de Los Angeles, tomaram a cena das grandes gravadoras. Com o tempo a ênfase se deslocou para carros de luxo como Lexus, Mercedes, Ferraris, LamborghinisBMWs e as enormes SWVs do tipo Cadillacs Escalade. Foi nessa época, começo dos anos 2000, com a gasolina a preço de banana, que esses modelos passaram a fazer sucesso entre rappers e aparecer nos vídeos como símbolo de ostentação, luxo, hedonismo e consumo conspícuo. Um dos modelos que mais agradava a negraiada do hip-hop era o Hummer (foto no início do post e abaixo).

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Originalmente projetado como um jipe de guerra, o Hummer se tornou o pupilo de todo rapper ou artista de R&B bem sucedido. Basta assistir os clipes do mijão R. Kelly ou da imitação vagabunda de Michael Jackson, Usher, para ver esses verdadeiros tanques sendo dirigidos pela rapaziada levando a sua turma para alguma balada ou rolêzinho básico. Sociólogos como o inglês Paul Gilroy e o francês Loïc Wacquant, especialistas em temas de cultura negra e sociologia urbana, defendem a tese de que a popularização do Hummer entre a juventude pobre urbana faz parte do processo de militarização dos centros urbanos que se iniciou nos anos 1990.  Assista video abaixo explicando o carrinho...



Mas em 2008 a crise econômica chegou de vez e o preço da gasolina, que já vinha registrando altas há pelo menos dois anos antes, foi parar nas nuvens. Hoje as SWVs e os modelos monstro tipo Hummer se tornaram indesejáveis devido ao alta relação custo/benefício. Esses carros tem a oferecer comforto e segurança, mas são uns beberrões de combustível sem vergonha.  No vídeo abaixo, o tiozão que trabalha para uma empresa que aluga esses carros para eventos, explica quem contrata os serviços da compania e mostra no que a rapaziada transformou o interior de  um Hummer limousine: um clube ambulante! Detalhe: o aluguel do carango custa 400 doletas a hora.



Dias atrás nossos trutas gringos ficaram orfãos de vez. A GM, responsável pela marca Hummer, anunciou o fim do modelo (leia artigo em português AQUI ). A montadora tentou negociar a venda da marca a uma empresa chinesa, mas o governo do capitalismo vermelho não autorizou a transação ciente do trambolho que ia pegar. Afinal, em tempos de crise, quem quer ter um carro que é necessário possuir um posto de gasolina para manter? Nem os rappers ostentadores, eu acho!... Entretanto, como afirmava a campanha de venda do veículo: "Um Hummer não é (ops, era!) para qualquer um!"

Muita Paz!