domingo, 7 de fevereiro de 2010

A Santa de Ouro Santogold

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Já sabem, um texto meu antigo. Saiu no blog de minha amiga carioca Débora Baldelli, o Cafetina Eletroacústica ano passado e resenha o primeiro álbum da cantora Santogold. Leiam, comentem e baixem o disco...

Muita Paz!

A Santa de Ouro Santogold

Convenções são, em boa parte, idéias equivocadas que partem do senso comum que, por sua vez, se realimenta das convenções. Uma das convenções mais estúpidas que existe é a idéia de um rock in roll branco. É possível falar em um embranquecimento histórico do rock, algo que tem início antes mesmo de Elvis Presley (1935-1977) e que remete tanto a cantor@s e bandas como ao público consumidor desse gênero de música. Entretanto, a música pop em geral é negra. E quando afirmo isso, não é devido a recente morte de Michael Jackson e não há nenhum traço de despeito, animosidade ou sentimento de roubo como é comum se ver na atitude de alguns negros.

Primeiramente, deve ser lembrado que o estabelecimento do conceito de música popular (pop music) tem sua origem nos anos 1930/1940 com a disseminação de mídias comunicativas de massa como o rádio. Nesse período, o primeiro ritmo que viria a fazer parte do panteão do pop, antes mesmo do rock, seria o jazz. Uma segunda observação a ser feita é que do ponto de vista mercadológico, nos EUA dos anos 1950 era muito mais fácil promover um rapaz branco, com pinta de galã, exalando virilidade e com cara de cowboy como Presley do que um negro com trejeitos efeminados como Little Richard.

Entretanto, bandas de rock negras não são de todo desconhecidas. Em minha adolescência, entre os anos 1980 e 1990, fui fã de algumas que produziam uma espécie de som que seria rotulado como crossover: uma mistura de vários tendências como ska, reggae, rock, soul, funk e hip-hop. Leia-se aqui Living Colour, Fishbone e Bad Brains que tinham como contrapartida outros grupos não necessariamente negros na pegada de Faith No More, Red Hot Chilli Peppers, Rage Agaisnt the Machine, Primus dentre outros menos famosos. Não dá pra esquecer a rapaziada dos Beastie Boys, obviamente!

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Nessa última primavera – escrevo de NYC – tive uma ótima surpresa ao ser apresentado a mais nova novidade negra do rock… Santi White é uma Black lady de 33 anos originária da Pennsylvania, mas radicada aqui no Brooklyn. Seu álbum de estréia, Santogold (apelido de infância da moça), foi a trilha sonora de minhas sofridas finals: período de três semanas que antecede o fechamento do semestre nas universidades americanas. Pois bem, a garota é boa pacas… Com um bacharelado em música e estudos afro-americanos pela Wesleyan University, Santi se lançou a música em 2003 como vocalista de uma banda de punk rock após ter trabalhado para a Epic Records e produzido a artista de R&B Res.

Os dois álbuns da Stiffed, primeira banda de Santi, intitulados Sex Sell (2003) e Burn Again (2005), foram produzidos por um ex-componente do Bad Brains, Darryl Jenifer. Ainda fazendo parte do Stiffed, a menina se lançou em carreira solo em 2007 com os singles Creator e L.E.S Artistes ganhando notoriedade na Internet. Em 2008 a mesma foi eleita artista revelação pela MTV e de lá pra cá é história… Em fevereiro deste ano, a garota teve que fazer uma pequena mudança no seu nome artístico deixando o Santogold em favor de Santigold, uma vez que o termo era homônimo de um truta joalheiro de Baltimore que ameaçava processá-la.

Mas falemos do disco… Santogold, lançado no início do ano, é um daqueles tipos de CDs que grudam no seu ouvido e repentinamente você se vê cantando na rua mesmo estando sem o seu iPod. Prestando um pouquinho de atenção, é possível perceber como Santi consegue absorver as mais diversas tendências da música pop e fazer um rock dançante que pode ser tocado na pista, na festinha de casa, no carro ou onde for e fazer a alegria.

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O álbum começa com L.E.S Artistes, uma faixa indie onde a voz baixa e meio adolescente de Santi soa meiga, mas o rifs de guitarra do refrão dão ritmo e peso. You’ll Find a Way é mais punk, pela levada e ritmo, contudo, alguns efeitos de guitarra colocados no meio da faixa fazem referência clara ao ska. É pra sair do chão… As referências caribenhas voltam em Shove It, onde Brooklyn é bem lembrado na letra da canção via um electro/dub em que o vocal da garota em determinados momentos se aproxima de uma levada meio ragga e é ajudada em parte pela participação especial de Span Rock, um grupo de rap alternativo americano.

A poeira sobe de novo com Say Aha, rock pista e dançante que não deixa ninguém parado. O experimentalismo voltam nas duas próximas faixas, Creator e My Superman. Na primeira a garota flerta com o eletrônico, um triphop acelerado e cheio de efeito. A segunda é mais introspectiva e o ritmo mais calmo, novamente aqui a referência é triphop a la Trick e companhia. Lights Out volta a pegada leve e divertida indie, mas totalmente pista. A voz da garota é leve e mais uma vez a cantora mostra a sua versatilidade em passar por vários estilos e formatos vocais distintos. Tanto Starstruck como Unstoppable voltam com o experimentalismo eletrônico, mas flertando com rock. I Am a Lady é um roquinho calmo para ouvir em dias de chuva e traz tranqüilidade ao disco anunciando seu final que chega com a faixa Anne que fecha o álbum com chave de ouro novamente apostando num flerte entre rock pop com vários elementos de eletrônico. De quebra o disco ainda traz uma versão remixada de You’ll Find a Way.

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Depois de ouvir o disco a sensação que fica é que Santigold representa muito bem o velho Brooklyn. Lugar de origem de feras do hip-hop como Notorious B.I.G., Jay Z e Mos Def,  mas que agora conta com uma diva negra do rock alternativo. Que venha o próximo disco da garota! A propósito, enquanto ele não vem, baixe o primeiro álbum da nega AQUI  e vá curtindo!