quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Terminando Bróder e Higienizando Emicida!



Hoje de manhã recebi um tweet de minha amiga Mila Felix e li no celular, ainda deitado na cama e bêbado de sono, a reportagem no Estadão sobre o filme de meu amigo Jeferson De que terá hoje sua primeira exibição oficial e que ocorre no Festival Internacional de Filmes de Berlim. Intitulado Bróder o filme se passa e foi filmado no Capão Redondo, bairro da zona sul paulistana que ficou famoso pelos versos de Mano Brown e sua trumpe. O ator principal do filme é Caio Blat que chegou até a morar no bairro para conhecer a região, conhecer melhor a vida das pessoas que encarnaria no papel e ganhar legitimidade. Assista abaixo entrevista de De ao UOL em 2008.



Estou feliz por Jeferson De, afinal, o conheço desde os tempos de faculdade na USP e sei a dureza que é ser cineasta no Brasil não sendo oriundo de famílias tradicionais, com grana e/ou influência. Mas a reportagem do Estado é estranha...  (leia AQUI ) A mesma começa com a descrição de De junto ao supervisor da trilha sonora do filme, João Marcelo Boscoli, pedindo para que o músico retirasse o termo "Hitler" presente na letra da música Triunfo do rapper Emicida (vídeo abaixo).  A resposta do diretor para ta atitude foi: "Como o filme vai passar na Alemanha, acho que não vai pegar bem falar em Hitler".



O resto da matéria é aquela papagaiada sobre relações raciais branco/negro tupiniquim que todo mundo já conhece e tá cansado (e em alguns casos, como o meu, irado!) de ouvir: "Existe racismo, mas também tem branco pobre." Aí vem uma pérola de Blat que ao ser convidado para fazer o papel respondeu a De: "Obrigado, eu sempre quis ser negro." Certo cara pálida, eu nunca quis ser branco...

De é audacioso e cutuca dizendo que nenhum filme da nova geração de películas nacionais não retratou a periferia de SP de forma apropriada incorporando toda a sua complexidade.  Okay man, puxou a responsa para si e estou ciente que na feitura de um filme como esse há muito mais outros interesses envolvidos (mais importantes e poderosos) além do meu posicionamento político. Exemplos disso são o orçamento do filme, estimado em 3 milhões de reais, e os parceiros empresariais. Entretanto, nego véio, cuidado com as conceções. Afinal, Bróder é um filme que pretende retratar uma periferia maciçamente negra/mestiça com um personagem principal branco e, por mais que vá (assim seja) se diferenciar em qualidade das outras películas que retrataram a periferia, será, com certeza, alocado no rótulo "favela movie"! E olha que nem falei nada da higienizada do Emicida. Desejo toda sorte e sucesso a Bróder, mas nessa parada da música Triunfo Jeferson De foi muito mais uma de pretinho Vila Madalena do que um maloqueiro do Capão...

Muita Paz!

PS: a reportagem afirma também que o filme contou com a "benção de Mano Brown", alguém pode me explicar isso??... Brown virou santo e eu não soube...