quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Odeio Primeira Semana de Aula, Mas Adoro o Professor Anani!

Mais um post da série "Eu Odeio!"  É, eu odeio primeira semana de aula! Como escrevi no Twitter (@NewYorKibe, me segue lá, porra!) hoje, "Você só gosta da primeira semana de aula quando está no seu primeiro semestre de graduação ou pós!" Fora dessas situações o começo de aulas é o início da tortura. Cada professor aparenta ser PhD em sadismo e quer literalmente lhe matar. Apresentações, resumos, resenhas críticas, trabalhos finais que podem chegar a 50 páginas e uma carga de leituras que frequentemente envolve de dois a três livros por semana (quando somadas as leituras das três disciplinas!). É nessas horas que você se pergunta: "What a fuck I am doing here?" Mas o que dá mais raiva mesmo é encontrar com os calouros (seja de graduação ou pós-graduação) pelo campus felizes da vida! Pobres coitados, deixa chegar as finals...



Pois é, mas a vida acadêmica conta também com figuras que deixam a gente mais animado e leve. No último final de semana dei um pulo em Providence, Rhode Island, para visitar minha amiga Fabiana Lima que deixava os EUA depois de cinco meses estudando na Brown University. Nessa passagem rápida pela cidade tive a oportunidade de me encontrar com o professor Anani Dzidzienyo. Originário de Gana (sim, falamos da Copa e da partida contra o Uruguai!), professor Dzidzienyo fez sua formação nos EUA e Inglaterra entre os anos 1960 e 1970. Em 1972 ele se tornou professor da Brown University onde leciona até hoje. Sua área de pesquisa e interesse é América Latina com enfâse no Brasil e relações raciais.  Junto com o historiador norte-americano Thomas Skidmore professor Anani foi, direta ou indiretamente, responsável pelo surgimento e formação da segunda geração de "brasilianistas" (acadêmicos norte-americanos que tem o Brasil como objeto de pesquisa), especialmente afro-american@s interessad@s em relações raciais. Estamos falando de figuras do porte de Michael Hanchard (John Hopkins University), Melissa Nobles (MIT), Kim D. Butler (Rutgers University) entre outros. Skidmore, atualmente beirando os 80 anos, foi substituído na Brown em 2005 pelo historiador James Green, pesquisador que possue um importante trabalho focando o homossexualismo no Brasil. Professor Dzidzienyo, por sua vez, mesmo do alto dos seus quase 70 anos continua lecionando no Department of Africana Studies da Brown. Vale lembrar que a Brown é talvez o mais importante centro de estudos sobre o Brasil nos EUA.





Apesar de termos muitos amigos em comum (como meu ex-orientador Antonio Sérgio Guimarães [USP] e minha amiga Uju Anya, sua ex-aluna), nunca havíamos nos encontrado pessoalmente. Meses atrás enviei a ele uma cópia de minha dissertação de mestrado defendida na USP. Nela reconstruo  parte da trajetória política, intelectual e ativista de Abdias do Nascimento, a maior liderança do movimento negro brasileiro e amigo pessoal de Anani. Tal qual não foi minha surpresa quando o professor Anani me presenteou na segunda-feira com três páginas de comentários de meu trabalho além de um delicado cartão com símbolos da mitologia ganense. A conversa também foi animada uma vez que o professor teve oportunidade de encontrar-se com uma série de figuras do mundo acadêmico/ativista brasileiro que só conheço via livros como o antropólogo/folclorista Édson Carneiro (1912-1972), o sociólogo Luiz Aguiar Costa Pinto (1920-2002), o ativista/sociólogo Alberto Guerreiro Ramos (1915-1982), o ator negro baiano Mário Gusmão (1928-1996) dentre outros. Para além disso, o professor é uma figura carismática, simpática e de riso fácil, o que facilita tudo! Esses fatos me fazem pensar que o mundo acadêmico pode ser um pouco menos chato do que é...

 

Bem, uma vez que a loucura das aulas voltou, não esperem tanta regularidade nos posts desse blog como ocorreu nos últimos meses. Mas na medida do possível escreverei...

Muita Paz!