domingo, 19 de fevereiro de 2012

Música Negra: O Que Falecido/as Nos Ensinam

Nos quase quatro que tenho vivido nos EUA vi muito/as astros/divas da música negra darem adeus. Logo que cheguei, em 2008, Isaac Hayes se foi. No ano seguinte foi a vez do iniqualável Michael Jackson. 2010 tirou de nós Teddy Pendergrass ou "Teddy P.", como o chamam por aqui. Ano passado Gil Scott-Heron e Amy Winehouse passaram dessa para uma melhor (será que é "melhor" mesmo?). E agora, início de 2012, foi a vez de Whitney Houston nos deixar. Hoje, enquanto malhava na academia, acompanhava o funeral da cantora exibido em canais de TV norte-americanos. Whitney nasceu em Newarck, NJ, e foi lá que a família Houston e várias celebridades como Stevie Wonder, Alicia Keys e Kevin Kostner se reuniram para dar testemunhos sobre a sua convivência com a estrela além de prestarem sua última homenagem a ela.
 
Indubitavelmente, a música pop em geral  - e a música negra em específico - ficou muito mais pobre com todas essas irreparáveis perdas. Mas é necessário nos questionarmos sobre o que algumas dessas mortes nos ensinam. Em minha opinião, a lição a ser aprendida é o que o sucesso pode ser uma armadilha fatal. Jackson, Winehouse e Houston morreram em condições até agora não muito bem esclarecidas. Entretanto, não é preciso ser detetive de polícia ou médico para notar que suas mortes tem relação direta com a vida conturbada que viveram e que envolvia relacionamentos conturbados, julgamentos, uso de drogas (lícitas e ilícitas) e outros problemas pessoais. Mas o mais grave de tudo é que nós, meros fãs desses artistas, também temos nossa parcela de culpa. Ou seja, indiretamente ajudamos a cavar a cova dessas personalidades. Todos os dramas pessoais dessas pessoas se tornaram mercadorias vendidas como entretenimento pela mídia. Essa percepção veio a mim hoje quando revia a apresentação de Stevie Wonder no funeral de Houston e notei que a classificação que a MSNBC (rede de TV) dava ao vídeo em sua página na Internet era "entretenimento".  Ou seja, o funeral de Whitney Houston que era vivenciado como um celebração religiosa por familiares, amigos e fãs da cantora é entretenimento e $$$ para os meios de comunicação. Não é preciso ir longe na sociologia para lembrar do teórico alemão da Escola de Frankfurt chamado Theodor Adorno que afirma que o papel dos meios de comunicação não é necessariamente informar, mas sim entreter.
 
É assim que a vida pessoal das celebridades se tornam mercadorias lucrativas na TV, Internet e imprensa escrita. Lembremos como os meios de comunicação lidaram com o julgamento e morte de Michael Jackson, a curta e atribulada vida de Amy Winehouse e, por fim, o relacionamento problemático de Houston com Bobby Brown, o envolvimento da cantora com drogas e sua ainda misteriosa morte. Podemos não perceber, mas acompanhamos essas histórias pessoais como se fossem novelas que se passam na vida real uma vez que elas lidam com um imaginário que atrae a maioria das pessoas. Artistas e celebridades são entendidos como pessoas especiais que vivem suas vidas como se fossem contos de fadas. São prodígios e talentosos como Jackson ou ascendem a fama rapidamente como Winehouse ou ainda criam uma representação de vida feliz e perfeita como o casamento de Houston e Brown dava a impressão de ser em 1992. Entretanto, para felicidade da indústria da fofoca e entretenimento, felicidade e perfeição não são coisas que se pode alcançar de forma plena. Assim, doenças, rompimentos, divórcios, envolvimento com drogas e tudo que diz respeito a vida pessoal dessas celebridades pode render matérias de jornal, revista e TV que será consumido por quem? Nós...

Coisas para se pensar.

Muita Paz e Muito Amor!