quarta-feira, 20 de junho de 2012

Meus 10 Livros “Mais Mais” de 2011: Post Número 2


2- Beethoven era 1/16 Negro e Outros Contos (2009) de Nadine Gordimer. Companhia das Letras. São Paulo. R$ 37 (em média). Nadine Gordimer (foto acima) faz parte de uma categoria bastante interessante de escritores sul-africanos, a saber: literatos pertencentes a classe branca dominante do país que hoje é conhecido como “rainbow nation” (algo eu deve se deve ser ajustado para a escritora, já que Gordimer é “branca”, mas judia). Nesse sentido, as histórias de Gordimer exploram uma faceta que também é vista nos escritos do também sul-africano e branco J.M. Coetzee: a decadência. Os personagens que surgem das páginas dos livros desses dois autores que já faturaram o Nobel de literatura são geralmente figuras que buscam se reinventar juntamente com a nova sociedade sul-africana que emerge no período pós apartheid. Tenham eles contribuído ou não com o sistema de segregação racial anteriormente vigente, todos se beneficiavam com o mesmo pelo fato de serem brancos. Contudo, os privilégios vivenciados na África do Sul anterior aos anos 1990 já não existem mais para esse grupo que agora precisa renegociar seu espaço social e status com uma nova classe média e burguesia negra, a chegada de novos imigrantes e enfrentar muitas vezes a experiência de declínio social e decadência. Mas mesmo a decadência tem o seu charme e é desse modo que ela surge nas histórias de Gordimer. Um de meus contos preferidos no livro é “Sonhando com os mortos” no qual ocorre um encontro fictício entre Edward Said, Susan Sontag, Anthony Sampson e ela num restaurante da vizinhança do SoHo, Nova Iorque. “Finais Alternativos” é um grupo de três contos que fecham o livro de Gordimer e que descrevem três histórias de adultério onde cada traição é descoberta através de um sentido (visão, audição e olfato). A fineza com que a escritora elabora essas três histórias finais é dilacerante, mesmo ela não dando conta dos cinco sentidos: ficam faltando dois contos que dariam conta do paladar e tato. Fiquei curioso em saber o porquê da omissão da autora, se ela os escreveu um dia e, finalmente, de como eles seriam. O conto que dá título ao livro descreve um professor universitário branco de meia idade numa viagem em busca de suas origem negra deliberadamente apagada pela família. Eis aí a analogia com os 1/16 de “sangue” negro de Beethoven. Gordimer é, definitivamente, uma escritora a ser lida.

Muita Paz, Muito Amor!