sexta-feira, 20 de julho de 2012

Meus 10 Livros “Mais Mais” de 2011: Post Número 9


9- Malagueta, Perus e Bacanaço (2004). João Antonio. Cosac Naify. São Paulo. R$ 49 (em média). Durante muitos anos tentei ler João Antonio (à direita na foto, de barba), mas sei lá porque motivo sempre travava nas primeiras páginas e acabava deixando a leitura de lado. Ano passado, no dia de meu aniversário, consegui comprar a edição mais recente de Malagueta, Perus e Bacanaço lançada em 2004 pela Cosac Naify. Os livros são extremamente bonitos e com enxertos de textos inéditos do autor, comentários críticos de especialistas além de uma introdução de nada menos do que Antonio Candido. Não quero dizer que tudo isso foi necessário para me convencer da importância desse autor paulistano que se colocou como uma continuação da literatura feita por Lima Barreto, mas retratando o cotidiano dos bairros populares, classe média baixa ou trabalhadora e da malandragem paulistana dos anos 1960 e 1970. João Antonio é um autor que há muito tempo conquistou seu lugar na literatura brasileira e serviu de inspiração para uma grande leva de autores, inclusive aqueles vinculados ao que hoje se convencionou chamar de “literatura marginal”. Entretanto, diferente desses Antonio possui uma espécie de prosa que o aproxima ao mesmo tempo da linguagem falada como da poesia: sua maneira de escrever é ritmada, próxima de um samba caipira como aquele cantado por um sambista contemporâneo seu, Gilberto Filme (se não sabe quem é, googa aí e baixa os discos!). A poesia que nasce do estilo e das histórias de João Antonio é tão forte que Candido afirma que Malagueta... é uma espécie de clássico de um “regionalismo urbano”, algo próximo do que Os Sertões, de Guimarães Rosa, representou para a escola regionalista da literatura brasileira. As personagens do livro de estréia de João Antonio são figuras sofridas da selva de pedra chamada São Paulo que nos anos 1960 já mostrava traços do crescimento desordenado, da desigualdade social, da violência policial e de vários outros problemas sociais que só pioraram com o passar das décadas. Entretanto, lendo os contos do livro é possível captar uma nostalgia de lugares que guardaram os nomes – Lapa, Barra Funda, Pinheiros, Centro e outros –, mas que mudaram de forma radical. Há no livro um retrato apurado de prostitutas, pequenos funcionários públicos com seu trabalho entediante e da malandragem que resolvia suas pendências na base dos socos e navalhas, jogava bilhar e contava histórias de “celebridades” do mundo da rua numa época que a droga mais conhecida era maconha. Morrer de “tiro” ou ser baleado era algo somente para poucos bandidos mais célebres. João Antonio fala de uma época em que a miséria urbana era a regra, mas ao mesmo tempo era possível fazer dela uma espécie de poesia sofrida e melancólica que alentava a vida das pessoas, algo perfeitamente captável no sambas do mestre Cartola no contexto do Rio de Janeiro. Décadas depois, a escalada da violência tiraria essa possibilidade, algo que poderia facilmente buscar uma analogia entre a troca das navalhas pelos “três oitão” para resolver as “tretas” dos malandros. Na violência não existe poesia, só sangue e dor! Leia João Antonio...
Muita Paz e Muito Amor!