quinta-feira, 21 de março de 2013

Dilemas da Democracia Brasileira

Três episódios, três situações que colocam em evidência dilemas que se postam a democracia brasileira. Vamos a eles lembrando sempre que sou um observador distante, mas atento:


1- Marcos Feliciano: um pastor evangélico eleito deputado que recorrentemente faz afirmações racistas e homofóbicas é indicado por seu partido para presidir uma comissão de direitos humanos. Detalhe: um dos maiores aliados de Feliciano é nada mais nada menos do que Jair Bolsonaro, um deputado abertamente homofóbico.


2- Garota negra de 12 anos é espancada no Distrito Federal após, no caminho para a escola, pegar ônibus e descer numa área desconhecida na qual é confrontada e agredida por outras quatro garotas. O motivo da agressão: ser negra e estar, por equívoco, numa área onde negro/as não são bem-vindo/as.




3- Ronaldo Fraga, estilista mineiro, usa palhas de aço na cabeça das modelos que apresentaram sua coleção de roupas no São Paulo Fashion Week. As palhas de aço eram uma alusão ao cabelo crespo dos negros.

Dilemas são situações paradoxais, ou seja, idéias contrárias que não podem existir ao mesmo tempo. Democracia faz referência à igualdade juridíca, convivência pacífica e respeitosa entre diferentes, cidadania, um mínimo de recursos econômicos, direitos/estado de direito, representação política e acesso a bens inalienáveis como saúde, segurança pública e educação fornecida por um estado laico.  Nas três situações o que se coloca é justamente o contrário, ou seja, hierarquia de vários tipos, violência física e simbólica contra os diferentes, manifestações de preconceito que abrem a porta para o conflito aberto entre grupos e ausência de representação política com base de legitimidade.

O Brasil vive um paradoxo. Ele é simples de ser explicado, mas difícil de ser resolvido: ou afirmamos nossas convicções, valores e projeto de nação calcados numa perspectiva democrática ou permitimos que forças conservadoras e retrógradas deturpem o jogo democrático em favor de uma ordem caduca, tacanha e que nos coloca no caminho contrário ao que o mundo mais igualitário tem buscado.  Gilberto Freyre afirmava que a cultura brasileira se constitue numa forma de "antagonismos em equilíbrio" e isso poderia ser comprovado na idéia paradoxal de "democracia racial". Fico curioso para saber o que o velho mestre de Apipucos diria sobre esses ocorridos se ainda estivesse entre nós.  Vale lembrar que o jovem intelectual progressista de Casa Grande & Senzala dos anos 1930 (que teve um caso homo-afetivo na juventude) se tornou um conservador reacionário no fim da vida que defendia o moribundo colonialismo português na África nos anos 1970. Bom para se pensar...

Muita Paz e Mais Amor!