quinta-feira, 2 de maio de 2013

Marcadores de Classe em Nova Iorque

Morar em Nova Iorque tem me feito pensar muito em classe, um conceito que tem voltado a mesa de discussão dos sociólogos contemporâneos após um período de descrédito. A sociedade norte-americana é dividida basicamente por grupos que se alinham em termos classe e elementos étnico-raciais, mas a desigualdade econômica tem crescido nos últimos tempos principalmente após o governo de Bush filho e a crise econômica que se arrasta desde 2008. As clivagens étnico-raciais são, na minha opinião, mais visíveis do que as de classe, apesar de muitas vezes as duas categorias estarem sobrepostas. Mas é justamente a dinâmica de uma cidade como Nova Iorque, marcadamente diversificada do ponto de vista étnico-racial e extremamente cosmopolita, que faz as distinções de classe tão interessantes de ser observadas. Vou elencar três, a saber: a) ser magro b) a ausência ou manipulação de inscrições no corpo, tatuagens e c) ser vegetariano. Na minha opinião, esses são os três marcadores de classe mais discretos de serem observados nos novaiorquinos e estão alocados, de uma forma ou de outra, no corpo das pessoas. Nesse sentido, sigo a orientação do sociólogo francês Pierre Bourdieu para o qual a desigualdade social da sociedade se cristaliza e toma forma no corpo dos indivíduos.
Primeiro uma aula rápida de sociologia. Classe é um conceito fundante em sociologia que explica as formas como indivíduos/grupos agem, se organizam e se agrupam na sociedade. Há três definições clássicas do conceito: 1) oriunda de Karl Marx onde classe é entendida como a posição que ocupamos na estrutura de produção capitalista: burguesia (os que dentem os meios de produção) e proletariado (aqueles que não possuindo os meio de produção, vendem sua força de trabalho). Ainda há a polêmica posição intermediária, vulgarmente chamada de "pequena burguesia" (burocracia, intelectuais, entre outros); 2) oriunda de Max Weber em que classe é dado pela quantidade de bens materiais/econômicos que o indivíduo possue e 3) oriunda de Pierre Bourdieu onde a posição de classe é dada pela articulação entre vários tipos de capitais (simbólico, econômico e cultural) sendo que os marcadores de classe são observados no que o sociólogo denominada de "habitus", ou seja, a cristalização de formas/traços de classe em ordenamentos mentais, físicos/estéticos e de técnicas corporais que estabelecem distinção social.


Minhas análises sobre o marcador social classe estão amparados na perspectiva de Bourdieu, que é mais flexível, complexa e incorpora as elaborações de classe teorizadas por Marx e Weber.  Para Bourdieu, classe é responsável por criar uma espécie de "estilo de vida" marcado pelo consumo de bens materias, simbólicos e culturais. Amanhã (ou dentro de alguns dias) falarei da idéia de magreza como um dos elementos que estabelece distinções de classe em Nova Iorque.

Muita Paz, Muito Amor!